Papo de Box: Curitiba inesquecÁ­vel, por Oscar Sajovic

Oscar Sajovic, chefe de equipe e piloto da Stock Car Light, tem muito a contar ao longo da sua carreira… Confira mais essa fantástica história, especial ao SpeedRacing.com.br.


A Stock car trocou sua assessoria de Imprensa.
Li no site dela.

Realmente era preciso.

Largamos em 2º em Curitiba, na abertura do Campeonato em 2004.

Eu estava andando muito a vontade lá.

Acabei batendo na entrada da reta oposta nos treinos.

Todo mundo fazia em 3ª.

Eu fazia em 4ª.

O carro saia meio solto.

Sem freio motor.

Buscando o limite, acabei passando dele.

Sai para a grama.

Tentei frear, após esterçar e não mudar a trajetória do carro.

Mas a grama estava molhada.

Foi a mesma coisa que nada.

Eu não havia nem pensado na hipótese de sair da pista.

Especialmente ali.

Virei passageiro.

Esperei pela pancada.

É o momento mais desagradável da vida de Piloto.

Observei o carro girar e apontar de ré para a barreira de pneus, que amortiza o impacto com o muro.

Senti a forte desaceleração provocada pelo choque com os pneus.

Senti o ar escapar dos pulmões.

E a cabeça bater forte no encosto de cabeça do banco.

Senti o carro girar rápido e brutalmente em seu eixo e apontar novamente para o sentido de giro da pista.

 

 

Escorregar mais um pouco e parar.

Desliguei o motor, cortando a ignição.

Levantei o pé da embreagem.

Acionei o botão do rádio e falei, “bati”.

Escutei até a respiração esbaforida do Chefe da Equipe, Arildo.

Ouvi-o perguntar, “estragou muito”.

O carro estava espetacular e só não fizemos a pole, porque Eu não soube aproveitar tudo dos pneus novos.

Não sei, respondi.

Não havia estragado muito.

Só fibra e alinhamento.

Larguei em 2º e pulei na ponta.

Assumi a liderança.

Dioguinho Pachenki havia me ensinado Á   largar bem.

Treinei muito.

A câmera ficou mostrando o Velho e bom Baltazar, que havia feito a pole.

Abri tanto na largada que sai do vÁ­deo.

Liderei 4 voltas.

Mas vinha tendo ploblemas com o câmbio.

Ora não entrava a 3ª, ora a 4ª.

Com o rádio também.

Havia feito a Vitória em ponto morto, não entrara a 4ª.

Com Baltazar me empurrando.

Ele vinha espumando atrás, de vontade de liderar, de vencer.

Com todo o pelotão da frente querendo assumir seu lugar, atrás dele.

Atrás de mim.

Deve ter ficado agoniado de perder a liderança na largada.

 

 

Na 4ª volta não entrou a 4ª marcha na entrada da reta oposta.

Eu havia voltado a usar 3ª, depois da pancada.

Baltazar passou pela esquerda com duas rodas na grama.

Reck que vinha em 3º, passou pela direita.

Passaram também Landi e André Carreira.

Fiquei tentando engrenar alguma marcha.

Descendo a reta oposta no embalo.

Na agonia.

No desespero de perder a liderança.

Como dói isso.

Na entrada do retão entrou 5ª, reduzi p/ 4ª e também entrou.

Enchi o pé no acelerador.

Mas via vários carros chegando, pelo retrovisor.

Boni, Fábio Carreira, Diogo Pachenki se recuperando muito rápidamente , Siciliano, etc.

Voltei ao ritmo de corrida.

Ouvi o Arildo me falar a coisa mais bonita que já ouvi em um rádio, dentro de um carro de corridas.

“Vc está descontando 1 segundo dos lÁ­deres por volta”.

Que luz, meu Deus.

Que coragem que dá ouvir isso.

Mas na Vitória não entrou a 4ª novamente.

Deixei rolar.

Fui contornando a curva em ponto morto.

Próximo dos 170 km/h.

Percebi o carro escapando.

Estercei mais um pouco.

Saindo do trilho.

Entrando na parte suja.

Percebi que ia sair da pista.

Já havia batido feio aÁ­ em 2003.

Sai da pista.

 

 

 

Havia uma interferência no rádio.

Alguém discutindo asperamente e em alto volume.

Arildo já havia pedido para pararem que estavam atrapalhando um Piloto na pista.

Eu já havia mandado para pqp.

Chamei de fdp e mandei calar a boca.

Mas não adiantava.

O fdp era igual Á  Candinha, da música do RC.

Queria falar.

Tentei contornar a curva pela grama.

Vi o muro se aproximar rapidamente.

Nessas circunstâncias, eles são traiçoeiros demais.

Voam em nossa direção.

Com muita agressividade.

Vi que não ia dar.

Estercei mais um pouco.

Rodei.

Raspei o parachoques traseiro no muro, ao rodar.

E retornei para dentro da pista, rodando.

Rodei no meio dos carros que vinham atrás.

Observei que eles pareciam uma revoada de passarinhos se desviando, cada um tomando uma trajetória diferente.

Vi o carro mudar o sentido de giro e aprumar a frente em direção ao muro.

Acionei os freios tentando diminuir a velocidade de impacto, mas percebi que não iria bater, engrenei 3ª marcha, estercei e voltei Á  corrida.

Bem atrás.

 

 

Observei que o carro continuava bom.

Voltei a andar rápido.

Mas achava que tudo estava perdido.

Arildo me passou um sabão pelo rádio.

Falou umas coisas horrÁ­veis.

Mas voltou a me falar com muito amor depois.

“Vc está descontando 1 s dos lideres”.

Pensei que era disco enroscado.

Mas Ele mandava caprichar.

Não errar.

Vim chegando.

Ultrapassando.

Um a um.

E encostei nos três primeiros que faziam um trenzinho, todos juntos.

Diogo liderava e Reck tentava de tudo qto é jeito, mas não era fácil passar.

Eu os acompanhava no vácuo até o meio da reta.

Depois mudava de trajetória para não sujar os pneus.

Saia todas as voltas mais forte que Eles na entrada da reta oposta.

Mas não havia jeito de passar.

Na penúltima volta o novato Lundgren deixou passar os três primeiros e me bloqueou.

Siciliano vinha como uma onça.

Chegando em Nós .

Inteligente como é, enfiou o carro por dentro e qdo vi; ao abortar para não rodar  a ultrapassagem sobre Lundgren, não havia mais jeito de segura-Lo.

Ao passar no retão, vi a Equipe toda no muro do Box, torcendo..

 

 

 

Mas, pressionei-O até as chicanas do final do retão.

Como Edgar Favarin havia me falado para fazer.

Sabia que Ele defenderia a posição.

Qquer um defenderia.

Mas sabia que Ele iria sujar os pneus ao sair do trilho.

E ao entrar na reta oposta o carro iria escapar.

Ele teria dificuldade de manter o carro na pista.

E não teria como me segurar.

Se Eu conseguisse fazer tudo certo, ultrapassaria-O, ali.

E fiz.

Do jeito que havia imaginado.

Qdo Ele escapou enfiei por dentro.

Mas ao recobrar o controle do carro Ele veio para o meu lado e bateu.

Tenho certeza que não foi intencional, mas simplesmente com o intuito de defender a posição.

No calor da disputa, devolvi a batida.

Caprichei na Vitória e contornei na frente dele, cuidando para bloquea-lo e impedir sua recuperação.

Passei em 4º na linha de chegada.

Siciliano em 5º, mas muito próximo.

Esperei pela briga, depois da corrida.

Mas Ele é um Cavalheiro.

Um grande Piloto.

E também um Amigo.

 

 

A assessoria de Imprensa da Stock car, escreveu no folder da Corrida de Curitiba, que fui ultrapassado na 3ª volta pelo Baltazar, após cometer um erro.

Nem vieram me perguntar o que havia acontecido.

E nunca publicaram que Eu havia assumido a liderança e ficado com ela por 4 voltas.

Meu Patrocinador ficou estarrecido e muito chateado com esse pouco caso e dali para a frente foi perdendo o entusiasmo.

Eles avaliavam a possibilidade de patrocinar um Piloto de Sta Catarina na V8.

E haviam conversas sobre correr em Lê Mans, Daytona, Sebring, etc.

Eles tem Agências na Europa e nos EUA.

Em outros Paises também.

Terminaram  por se retirar no meio do ano passado.

Ia me esquecendo; o velho e bom Baltazar liderou a corrida, depois que Eu tive problemas.

Ele vinha segurando todo mundo, mantendo a liderança.

Mas fundiu o câmbio de seu carro no final da corrida qdo Ele já estava colocando a mão no Troféu.

O Vencedor foi o Dioguinho que trancou o Reck Jr com todos cadeados possÁ­veis.

 Sempre corri com muito pouco dinheiro.

Muitas vezes o Mecânico fui Eu.

Já fui toda a Equipe também.

Só Eu.

E nunca paguei Assessoria de Imprensa.

Nunca tive p/ pagar.


Fiquem com Deus e rezem o Terço.