Coluna Conversa de Pista: F-1 revela o futuro

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Pilotos novatos já começam a solar na sinfonia de 2019

Por Wagner Gonzalez

 

ImpossÁ­vel não analisar o recente GP do Bahrein (Foto de abertura, Ferrari) sem enxergar que o futuro da F-1 já não é tão desconhecido assim, cortesia de Charles Leclerc, Lando Norris e Alex Albon, para citar apenas uma categoria de profissionais. Sem esquecer que estamos apenas na segunda etapa de uma série de 21 corridas, nota-se que a McLaren mostra potencial para renascer das cinzas após anos marcados por resultados decepcionantes e alguns nomes consagrados deixam claro que estão usando o cheque especial no que diz respeito ao que venderam e ao que andam entregando.

Nos anos 1980 Senna (E), Prost, Mansell e Piquet equilibraram as forças da F-1 (Arquivo Pessoal)

Historicamente a F-1 inicia novos ciclos, ora com o domÁ­nio de uma equipe, determinada tecnologia ou com o surgimento de pilotos de ponta, como aconteceu nos anos 1980. Naquela época havia uma safra de novos valores que garantiu por bom tempo a diversidade de equipes disputando a ponta; a clássica foto de Ayrton Senna com o macacão da Lotus, Alain Prost com o da McLaren e Nelson Piquet e Nigel Mansell com as cores da Williams, sentados no muro dos boxes do autódromo de Estoril ilustra bem esse capÁ­tulo da história. Gradativamente eles foram substituÁ­dos por Fernando Alonso, Michael Schumacher, Mika HÁ¤kkinen e, mais recentemente, por Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, mas jamais viu-se uma constelação tão grande e variada quanto naqueles dias.

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Sebastian Vettel é o nome na berlinda: tetra campeão deve um tÁ­tulo Á  Scuderia (Ferrari)

Verdade que vários pilotos tentaram, mas não deixaram marcas tão fortes quanto Mansell, Piquet, Prost e Senna. Nem mesmo campeões como Kimi RÁ¤ikkÁ¶nen e Jenson Button consolidaram seus tÁ­tulos com a grife de seres fora de série: foram, isto sim, eficientes Á  sua maneira. Button sequer é mencionado como um dos “top ten” apesar das seis vitórias em 17 etapas de 2009 e 15 nas 247 largadas que contabilizou em sua carreira; nomes como Juan Pablo Montoya vencedor de sete GPs entre as temporadas de 2001 a 2005 deixaram muito mais saudades.

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Pietro Fittipaldi chegou Á  F-1 por caminhos variados e testa amanhÁ¥ com a Haas (Haas F1)

Comunidade que concentra a maior parte do negócio Fórmula 1, a Grã-Bretanha tende a favorecer seus filhos e não são poucos os casos de promessas que tiveram grandes chances e nunca vingaram. Se você pensou nos escoceses David Coulthard e Paul Di Resta, nos ingleses Derek Warwick, Mark Blundell e Martin Brundle, até mesmo no irlandês Eddie Irvine, estamos sintonizados. Não se pode coloca-los em qualquer lista de “braços-duros” (como os pilotos mais lentos são chamados no jargão do esporte), mas jamais corresponderam ao que a imprensa britânica alardeou ao mundo.

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Charles Leclerc já conseguiu sua primeira pole e liderou boa parte do GP do Barheain (Ferrari)

Dito isso podemos olhar a três nomes desta temporada com algum parâmetro para prever onde poderão chegar. O primeiro deles é Charles Leclérc, terceiro monegasco a brilhar na F-1; os outros dois foram Louis Chiron e André Teslut. Leclerc vive sua segunda temporada em uma equipe de ponta, onde chegou amparado tanto politicamente quanto pelo potencial demonstrado em seus anos de formação.

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Lando Norris tem apoio da equipe para se tornar a marca do renascimento da McLaren (FIA F2)

Alçado a escudeiro de ninguém menos que o tetracampeão Sebastian Vettel, Leclérc não se intimidou e em sua segunda apresentação pela Scuderia superou o companheiro de equipe em plena pista e Á  vista do público que acompanhou a prova pela TV. Foi uma ultrapassagem para deixar claro que veio para ficar. A já longa e desgastante fase de erros e resultados instáveis do alemão ajuda a consolidar o recém-chegado como aposta segura. No fim de semana Leclerc obteve sua primeira pole position e liderou a prova até que um problema na unidade de potência do seu Ferrari o fez perder posições para o vencedor Lewis Hamilton e o segundo colocado Valtteri Bottas, que segue lÁ­der do campeonato. O resultado completo do GP do Bahrein você encontra aqui.

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George Russell derrotou Lando Norris na F-2 e amarga temporada em equipe decadente (Williams)

Passemos a Lando Norris, outro jovem que vinha em uma carreira de tÁ­tulos consecutivos até ser batido pelo compatriota George Russell na temporada passada de F-2. Tanto Norris quanto Russell também exibem capital polÁ­tico: o primeiro é bancado por Zak Brown, homem de marketing e diretor do grupo McLaren, e o segundo por Toto Wolff, o bam-bam-bam da Mercedes na F-1. Filho de um dos homens mais ricos da Inglaterra, Norris ameaça virar o algoz de Carlos Sainz Júnior e para isso conta com as bençãos de Brown, da sorte que o acompanha e da timidez de resultados que caracteriza a carreira ainda incubada do espanhol.

George Russell, por seu lado, vem de dois tÁ­tulos importantes, na GP3 (2017) e na F-2 (2018). No ano passado Lando Norris era o favorito disparado ao tÁ­tulo, mas Russell presenteou o compatriota como uma ducha de água ainda mais fria que os banhos gelados que Jim Clark relatou como rotina dos seus tempos de estudante. A Inglaterra é famosa por ter uma das gastronomias mais indecentes do mundo e não será surpresa se a vingança será saboreada igualmente fria se Toto Wolff deixar claro que escolheu um novo Pascoal Wehrlein, jovem alemão que conquistou a DTM e decepcionou a F-1.

Por enquanto, Norris leva vantagem sobre Russell: enquanto o primeiro vê planetas alinhados em torno do seu McLaren, o segundo amarga uma temporada de estreia em uma equipe Williams que vive a pior fase de sua história. Ter sido escolhido para testar pneus no Bahrain pela equipe Mercedes pode ser uma injeção de ânimo importante para um jovem em formação e ameaçador para um Valteri Bottas próximo do ápice de sua ascensão.

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Daniel Ricciardo ainda vive fase de adaptação Á  sua nova equipe (Renault Sport)

Já formado, o australiano Daniel Ricciardo amenizou no GP Bahrain a decepção com a qual brindou seus fãs na estreia pela equipe Renault, duas semanas atrás, na sua terra natal. O que coloca o sorridente Ricciardo na berlinda é o fato que seu companheiro de equipe e parâmetro de comparação é um piloto que já disputou 160 GPs e ainda não conseguiu um único lugar ao pódio, Nico Hulkenberg. Como Ricciardo tem no currÁ­culo 152 largadas e sete vitórias, ter andado atrás do alemão nas duas primeiras corridas do ano, sugere que seu cartão de crédito já não permite gastos irracionais.

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Sérgio Pérez corre o risco de perder o bonde que leva ao time dos vencedores (Sport Pesa)

Outros nomes que caminham turbinados para a lista dos que jamais chegaram onde esperavam são Romain Grosjean, Kevin Magnussen e Sérgio Pérez. Todos arrojados em graus próximos, eles são candidatos a ter seus postos cobiçados por valores a caminho, em especial o franco-suÁ­ço e o dinamarquês; o mexicano ainda se garante graças a bom apoio de patrocinadores e Á  economia ainda estável do México.

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Alexander Albon já marcou seus primeiros pontos e supera o experiente Daniil Kvyat (Getty Images)

Por outro lado, quem dá mostras de superação é o anglo-tailandês Alexander Albon: ele brilhou nos testes de inverno e acabou marcando os primeiros pontos da Toro Rosso, onde o outro piloto é Daniil Kvyat. A sorte ajudou Albon –  quem apostaria numa desistência estilo jogral dos dois pilotos da Renault, em Sakhir? -, mas existe vencedor azarado? Seu cacife anda tão alto que ele treinar nos dois dias de testes que acontecem hoje e amanhã, em Sakhir (veja abaixo), usando seu carro atual, Daniil Kvyat testará os novos pneus.

Passando a borracha em SakhirÂ

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Mick Schumacher: DNA ajudou a testar pela Ferrari e pela Alfa Romeo esta semana (Alfa Romeo)

Hoje e amanhã as dez equipes inscritas no Campeonato Mundial de F-1 fazem testes no traçado usado no fim de semana e entre os pilotos escalados aparece uma boa mistura de monstros sagrados, nomes consolidados e novatos com potencial de fazer parte do grid no futuro próximo. Na primeira categoria está o espanhol Fernando Alonso, que vai pilotar um McLaren equipado com pneus de aro 18”, alternativa que a Pirelli espera utilizar em 2020 ou 2021. No último caso estão o brasileiro Pietro Fittipaldi e o alemão Mick Schumacher; Fittipaldi é o piloto de testes e primeiro reserva da equipe Haas enquanto Schumacher vê seu potencial valorizar como se fosse uma cripto-moeda: ele vai andar com carros da Ferrari e da Alfa Romeo (ex-Sauber).

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Dan Ticktum é aposta da Red Bull para repetir fenÁ´meno Max Verstappen (Getty Images)

Outros nomes pouco familiarizados com a F-1 que estarão em ação são Dan Ticktum (Red Bull), Callum Illott (Alfa Romeo) e Jack Aitken (Renault). Veja abaixo a lista completa dos pilotos que estarão em ação hoje e amanhã:

Mercedes: Lewis Hamilton (terça-feira), George Russell (quarta-feira)

Ferrari: Mick Schumacher (terça-feira), Sebastian Vettel (quarta-feira)

Red Bull: Max Verstappen (terça-feira), Dan Ticktum (quarta-feira)

Renault: Daniel Ricciardo (terça-feira), Jack Aitken (quarta-feira)

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Anglo-coreano Jack Aitken faz parte da Academia Renault (Renaullt Sport)

Haas: Romain Grosjean (terça-feira), Pietro Fittipaldi (quarta-feira)

McLaren: Carlos Sainz (terça-feira), Lando Norris (terça-feira Á  tarde e quarta-feira)

Racing Point: Lance Stroll (terça-feira), Sergio Perez (Quarta-feira)

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Cortesia de sua ligação com a Academia Ferrari Callum Illott testará pela Alfa Romeo (Ferrari)

Alfa Romeo: Callum Ilott (terça-feira), Mick Schumacher (Quarta-feira)

Toro Rosso: Alexander Albon (terça-feira and Quarta-feira)

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Canadense Nicolas Latifi, vice-lÁ­der da F-2 2019, vai andar com um WIlliams (Williams)

Williams: George Russell (terça-feira AM), Robert Kubica (Terça-feira PM), Nicholas Latifi (Quarta-feira)

Teste Pirelli com McLaren: Fernando Alonso (Terça-feira e quarta-feira Á  tarde), e Carlos Sainz (quarta-feira de manhã)

Teste Pirelli com Toro Rosso: Daniil Kvyat (terça e quarta-feiras)