Conversa de Pista: É HORA DE LER NAS ENTRELINHAS

BOTTAS E VETTEL TERÁƒO MOTIVOS PARA REFLETIR NA TEMPORADA DE FÉRIAS DA F-1

Por Wagner Gonzalez

Foto: Red Bull Content Pool

Foto: Red Bull Content Pool

Como já virou tradição, a F-1 faz uma pausa no calendário supostamente para dar proporcionar alguns dias de férias para os saltimbancos que passam o ano dormindo em aviões e hotéis ao redor do mundo, (foto de abertura),a  pausa após o GP da Hungria, cujo resultado completo você confere aqui. O mundinho da categoria, porém, sabe que haverá pouco tempo de descanso nas próximas semanas até o GP da Bélgica, dia 1ode setembro, em Spa-Francorchamps. Nas fábricas e escritórios das 10 equipes e dos quatro fabricantes de motores haverá reuniões, discussões e muitos cálculos para definir até onde vale a pena insistir em projetos, pilotos e engenheiros que na primeira fase do campeonato não conseguiram entregar o que eles mesmos esperavam.

Valtteri Bottas lidera a bolsa de apostas na lista de pilotos que devem mudar de equipe ao final da temporada (Mercedes)

Dois nomes se destacam nessa lista: Valtteri Bottas e Sebastian Vettel, respectivamente segundo e quarto colocados no campeonato após 12 de 21 etapas disputadas. Bottas iniciou o ano com duas vitórias e a liderança mantida até o GP do Azerbaijão, desempenho que surpreendeu a muitos e indicou que ele poderia finalmente subir de patamar. Não foi o que aconteceu: a partir de então seu desempenho caiu e na oportunidade em que poderia descontar a diferença para Lewis Hamilton, ele bateu durante o caótico GP da Alemanha disputado em condições atmosféricas próximas do imprevisÁ­vel. Foi o pingo d’água que o colocou em uma situação difÁ­cil para o ano que vem.

Graças a uma bobeada da equipe Alfa Romeo (um “erro” de programação no comando eletrÁ´nico da embreagem tirou Kimi RÁ¤ikkÁ¶nen e Antonio Giovinazzi dos top 10), Lewis Hamilton, companheiro de equipe de Bottas, deu um passo importante para seguir lÁ­der seguro do campeonato. Muito pior que isso, abriu espaço para Toto Wolff lembrar do seu pupilo de plantão, o franco-catalão Estebán Ocón. O todo-poderoso chefe da equipe Mercedes já se consolidou como um dirigente frio e calculista que comete poucos erros, mas ainda tem um currÁ­culo incompleto. Entre muitas vitórias e conquistas conquistadas com golpes de mestre há uma página em branco e ligeiramente amassada.

Toto Wolff está indeciso entre manter Valtteri Bottas ou promover Estebán Ocón (Mercedes)

Ao contrário de Ron Dennis (que descobriu Lewis Hamilton) ou Helmut Marko (que peitou a contratação de Max Verstappen, entre outros), para citar apenas dois colegas, Wolff ainda não revelou nenhum grande nome, e sua tentativa mais recente, Pascal Werhrlein, revelou-se um furo n’água. O currÁ­culo de Ocón mostra que ele já disputou freadas com Verstappen — e levou a melhor em algumas delas—, e só está fora da F-1 porque em sua passagem pela equipe Force India enfrentou a ligação quase umbilical de Sérgio Pérez com a equipe hoje conhecida como Racing Point e os milhões de dólares trazidos pela famÁ­lia Stroll, cujo nome aparece na lista de inscritos como piloto do carro nº 18.

Estebán Ocón é o protegido da vez de Toto Wolff e pode ser companheiro de Hamilton em 2020 (Mercedes)

A situação de Bottas poderia estar ainda pior caso ele não tivesse marcado os quatro pontos garantidos pelo oitavo lugar em Hungaroring, cortesia de uma parada extracurricular para trocar o bico do carro danificado ao tentar se recuperar de uma largada onde desperdiçou o segundo lugar no grid. Em poucas palavras, o mÁ­nimo que a Mercedes espera de Bottas é garantir o segundo lugar a cada prova e, consequentemente no campeonato. Como a primeira parte do desafio não está sendo cumprida, a segunda fatalmente entra na zona de risco e os números não mentem: o finlandês tem apenas sete pontos de vantagem sobre Max Verstappen, que nas últimas quatro provas venceu duas e fez três voltas mais rápidas. Questionado sobre quem será o companheiro e Hamilton em 2020 Wolff não escondeu que está indeciso entre Bottas e Ocón.

Sebastian Vettel ainda não entregou o tÁ­tulo que justificou sua contratação pela Scuderia (Ferrari)

Como é normal acontecer com a Ferrari, a permanência de seus pilotos está diretamente ligada aos resultados conquistados a cada corrida. Ausente do pódio em 50% das etapas já disputadas este ano, Sebastian Vettel foi roubado da vitória no GP do Canadá em uma das decisões das mais arbitrárias e discutidas dos comissários desportivos nos últimos tempos. Vettel ainda patina para sair de um inferno astral que já dura dois aniversários. Por melhor que a sua recuperação no GP da Alemanha deste ano, quando alinhou no último lugar do grid por um problema mecânico que o impediu de disputar a prova de classificação, contraste com seu erro crasso na edição 2018 desse mesmo GP, o tetracampeão pela Red Bull ainda não entregou Á  Scuderia o tÁ­tulo que muitos esperam.

Charles Leclerc já conheceu muitos dissabores em seu primeiro ano em uma equipe grande (Ferrari)

Verdade que a própria Ferrari se supera em cometer erros estratégicos e de preparação que estragam os fins de semana de seus pilotos, algo que o recém-chegado Charles Leclerc já comprovou várias vezes. Com o único orçamento comparável com o da Mercedes, que domina a categoria há várias temporadas, a equipe de Maranello deixa-se envolver perenemente por crises que se renovam a cada momento decisivo, um cenário que acaba com as energias e confiança de qualquer piloto, mesmo de quem foi apontado como o sucessor de Michael Schumacher na lista de maior vencedor de todos os tempos. Lugar que a Mercedes trabalha direitinho para que Lewis Hamilton ocupe ao final da próxima temporada enquanto ele aproveita as férias de agosto para rever a maneira como dorme.

Lewis Hamilton quer rever seu padrão de sono para melhorar de rendimento na fase final do campeonato (Mercedes)