Dakar: em dia dramático, brasileiros fazem metade da prova sem volante

Quebra de peça da direção fez dupla improvisar. Varela pilotou usando uma chave de fenda

Os brasileiros Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin mostraram logo no primeiro dia do Rally Dakar o espÁ­rito combativo que os ajudou a conquistar o tÁ­tulo de 2018 e o pódio em 2019 (terceiro lugar), configurando a melhor dupla da categoria UTV das últimas duas edições. Uma quebra no sistema de direção desconectou a coluna do volante de direção no quilÁ´metro 166 dos 319 da especial deste domingo (05/11) na Arábia Saudita. O sistema é uma adaptação feita pelas equipes nos veÁ­culos originais, visando acoplar os volantes de competição. A saÁ­da encontrada pelos brasileiros foi improvisar as peças com duas chaves de fenda, uma fazendo as vezes de coluna de direção e a outra do volante propriamente dito. Em uma competição super especializada, com os maiores pilotos e navegadores do mundo, os brasileiros da equipe Monster Energy/Can-Am completaram o dia saltando dunas e andando em alta velocidade por trechos sinuosos em condições de dirigibilidade bastante precárias. Por isso, foram aplaudidos na chegada.

“Talvez uma dupla menos experiente e com menos paixão pelo que fazemos desistisse. Mas nós não pensamos nisso um segundo sequer. Nosso foco desde o inÁ­cio foi consertar o problema e ir até o fim”, conta Reinaldo Varela que, ao lado de Gustavo Gugelmin, se sagrou tricampeão mundial de rally em outubro passado. “Nessas situações – e já tivemos várias ao longo da carreira – fico espantado com a agilidade do Gustavo de propor soluções. A coluna de direção e o painel de instrumentos não são originais de fábrica. Trabalhamos muito bem juntos e trocamos a coluna e volante colocados pela equipe. Fizemos uma improvisação com as ferramentas que tÁ­nhamos disponÁ­veis. Da minha parte, foi bastante incÁ´modo pilotar com uma ferramenta improvisada como volante. Causou muita dor nas mãos por causa da tensão, do esforço para segurar o ‘volante’ e da trepidação. Nas curvas, devo confessar que dava certo medo. Mas a incerteza faz parte dos rallies, é da natureza desse esporte”, continua o piloto da equipe Monster Energy/Can-Am.Â

Para o resto da vida –“Eu já respeitava muito o Reinaldo como piloto, mas hoje a minha admiração cresceu muito. Tivemos um dia dos mais difÁ­ceis, mas é um dia pra lembrar para o resto da vida”, diz Gustavo Gugelmin. “Ele pilotou os 153km finais da especial em alta velocidade usando uma chave de fenda como volante – e isso em pleno Dakar, o mais difÁ­cil rally do mundo. E depois ainda dirigiu mais 235km do deslocamento final obrigatório por regulamento, que era para chegarmos ao ponto de largada do dia seguinte, em Al Wajh. Acho que o dia de hoje diz muito sobre ele e a nossa parceria. Estamos tristes pelo que aconteceu, mas ainda assim orgulhosos do que fizemos. Amanhã tem mais”, completou o navegador da equipe Monster Energy/Can-Am.

Brigando pela ponta –Depois de largar pela manhã deste domingo em Jeddah, a dupla brasileira chegou a Al Wajh já no perÁ­odo da noite. Antes da quebra, eles brigaram pela vitória na especial, pois tinham ultrapassado as duplas Francisco “Chaleco” López/Pablo Latrach (Chile) e Gerard Farrés Guell/Armand Monleon, que disputavam a liderança até então. Os dois duos são os atuais campeão e vice do Dakar. Agora, a diferença para os vencedores da primeira especial, a dupla polonesa Aron Domzala/Maciej Marton, é de 2h22min. “O Dakar já é uma competição naturalmente difÁ­cil, seja pelo trajeto, duração e concorrentes”, diz Varela. “Quebras podem acontecer, já sabÁ­amos disso. Mas vamos pra cima tentar fazer o melhor em uma corrida de recuperação. Este é o Dakar, aqui tudo é possÁ­vel”, completou o piloto da equipe Monster Energy/Can-Am.

Nesta segunda-feira, o Dakar tem previstos 367km de especiais, com um total de 401km, incluindo os trechos de deslocamento. Segundo a organização, o percurso será formado por trilhas velozes, mas com referências que nem sempre são confiáveis. “A navegação será difÁ­cil justamente por que haver locais com muitas trilhas se cruzando, que nem sempre poderão ser a referência correta. Isso pode jogar a nosso favor nessa corrida de recuperação. Vamos pra cima”, resumiu Gustavo Gugelmin.