Deputados cobram de Temer mais R$ 1,8 bi em benefÁ­cios para montadoras

Às vésperas do anúncio do Rota 2030, programa de estÁ­mulo Á s montadoras, parlamentares do Nordeste, Norte e Centro-Oeste cobram uma promessa do presidente Michel Temer de prorrogar, por cinco anos, benefÁ­cios fiscais Á  indústria automobilÁ­stica nessas regiões.

Esses incentivos totalizam R$ 1,8 bilhão por ano, um valor maior até do que o do próprio Rota 2030, que deve ter impacto de R$ 1,5 bilhão por ano —teto definido pela equipe econÁ´mica em benefÁ­cios para todo o setor diante de um quadro de ajuste fiscal.

Em cinco anos, a ampliação desses subsÁ­dios, que são concedidos a empresas que se instalaram nessas regiões até 2010, custariam cerca de R$ 9 bilhões para a União.

Deputados e senadores se reuniram na terça-feira (3) com Temer e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, para tratar do tema.

Em março, durante visita Á  fábrica da Fiat Chrysler em Pernambuco, Temer prometeu prorrogar esses incentivos regionais, que vencem em 2020, por mais cinco anos.

A promessa pegou de surpresa a equipe econÁ´mica que, agora, sofre pressão para que a renovação prometida por Temer seja anunciada junto com o Rota 2030.

A Receita Federal resiste Á  prorrogação porque as contas públicas só devem voltar ao azul em 2023. Outro argumento é que, no Brasil, os incentivos tributários consomem o equivalente a 4% do PIB (Produto Interno Bruto), ante média mundial de 2%.

Com aval de Temer, a estratégia da equipe econÁ´mica é não renovar benefÁ­cios que forem vencendo. Mas o presidente rompeu a regra com a promessa aos fabricantes instalados nessas regiões.

O regime tributário especial para a indústria automobilÁ­stica no Norte, Nordeste e Centro-Oeste existe desde 1996, e o programa foi instituÁ­do para estimular a descentralização das montadoras no paÁ­s.

Pelas regras, as montadoras podem compensar parte dos seus pagamentos de PIS/ Cofins com créditos de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) obtidos nas vendas no mercado interno.

A contrapartida é investimento em pesquisa e desenvolvimento, ponto que também é previsto no Rota 2030, que deve ser anunciado pelo governo ainda nesta semana.

O governo tem pressa no anúncio do Rota porque, a partir da semana que vem, passam a valer as regras da legislação eleitoral que restringe a propaganda. Assessores de Temer não querem correr o risco de que o anúncio seja considerado de cunho polÁ­tico.

O R$ 1,5 bilhão por ano de estÁ­mulo do Rota 2030 engloba diferentes tipos de incentivo: reduções de alÁ­quotas de IPI para veÁ­culos elétricos e hÁ­bridos, geração de créditos para abatimento de impostos sobre a renda e a criação de um fundo que será abastecido com a receita do recolhimento de Imposto de Importação de autopeças.

Para pÁ´r fim Á s dúvidas de que haverá protecionismo, as regras serão as mesmas para quem produz localmente ou para importadores.

Pelo programa acordado entre o Ministério da Fazenda e o Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), quem aderir e fizer investimentos em inovação poderá gerar créditos de até 30% do valor dos veÁ­culos. Isso poderá ser usado para abater do pagamento de Imposto de Renda e CSLL (Contribuição Social sobre Lucro LÁ­quido).

O descumprimento das novas regras por quem aderir ao programa vai gerar uma multa de 20% sobre as vendas, tanto para montadoras quanto para importadores.

Nos casos em que as empresas investirem em áreas consideradas estratégicas, como motores movidos a biocombustÁ­veis e nanotecnologia, o abatimento chegará a 40%.

Para o governo, isso atende Á  reclamação de montadoras de que não havia mais estÁ­mulo para a manutenção no paÁ­s de centros de pesquisa com o fim do Inovar-Auto (versão anterior do programa).

Para estimular o aumento da frota de veÁ­culos menos poluentes, devem ser reduzidas as alÁ­quotas de IPI de elétricos e hÁ­bridos. Dependendo do peso e da eficiência do motor, haverá três faixas de IPI: 7%, 11% e 18% no caso dos veÁ­culos elétricos; 9%, 11% e 18% para os hÁ­bridos. Atualmente eles são taxados em até 25%.

Além disso, os fabricantes de veÁ­culos convencionais que baterem a meta de eficiência (15%) ganharão descontos de um ponto percentual no IPI.

Se for a 17%, ganharão dois pontos percentuais a mais —limite máximo. Para financiar projetos de mobilidade urbana, será criado um fundo com recursos provenientes da arrecadação do Imposto de Importação de autopeças.

Estima-se que, inicialmente, o fundo conte com R$ 250 milhões —valor correspondente aos 2% de imposto que incide sobre as importações no ano.

A medida provisória do Rota prevê também o lançamento do Programa Nacional de Eletromobilidade, que definirá o marco regulatório em um mercado com presença mais forte de veÁ­culos elétricos e hÁ­bridos.

Um grupo de trabalho já criado estuda, por exemplo, se caberá Á  iniciativa privada ou ao governo construir postos de recarga de carros no paÁ­s.

No ano passado, o Brasil registrou somente 3.000 veÁ­culos dessa categoria.

Dados do Ministério da Indústria indicam que a China produziu 1 milhão de motores elétricos e sinalizou que, em 2022, colocará 5 milhões por ano nas ruas —capacidade atual de toda a indústria brasileira. Ou seja, os chineses estão empurrando o mercado global para esse tipo de produto.

Fonte: Folha de S.Paulo