F1: Impasse em autódromo já ameaça construção do Parque OlÁ­mpico do Rio-2016

A promessa era de que o autódromo Nelson Piquet só seria demolido quando o novo estivesse pronto. A bola está com o Ministério do Esporte, mais precisamente com o secretário de Alto Rendimento, Ricardo Leyser. A assessoria de comunicação informou que a construção do autódromo de Deodoro ainda não tem um cronograma oficial e que o secretário não vai se pronunciar sobre o assunto antes da publicação do edital do projeto. O documento, porém, depende do estudo de viabilidade que está sendo feito pela Fundação Getúlio Vargas, contemplando questões técnicas, ambientais e de sustentabilidade.

A construção do novo autódromo de Deodoro, no subúrbio do Rio, deve se transformar na maior dor de cabeça dos organizadores das OlÁ­mpiadas de 2016. Em 2008, autoridades assinaram um acordo prevendo que o Parque OlÁ­mpico, que destruirá o autódromo de Jacarepaguá, só pode começar a ser construÁ­do quando a nova casa do automobilismo carioca ficar pronta. O projeto para o novo autódromo, porém, está longe de sair do papel e pode atrasar as obras do Parque OlÁ­mpico de 2016.

A origem dos problemas está nos Jogos Pan-Americanos de 2007. A construção de três instalações dentro de Jacarepaguá (Arena Multiuso, Parque Aquático Maria Lenk e Velódromo) chegou a ser paralisada por ordem judicial. Para que isso não voltasse a acontecer, Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Prefeitura do Rio, Ministério do Esporte e Comitê OlÁ­mpico Brasileiro (COB) celebraram um acordo na 6ª Vara de Fazenda do Rio.

Para entregar o autódromo a tempo de começar as obras do Parque OlÁ­mpico, o Ministério do Esporte torce pela aprovação do Regime Diferenciado de Contratação Pública (RDC). O projeto da deputada federal Jandira Feghali, do mesmo partido do ministro Orlando Silva, o PCdoB, deve ser votado pela Câmara na semana que vem.

“A RDC reduziria o tempo entre a decisão de investir e a execução das obras”, explica o economista Gil Castello Branco, secretário geral do Contas Abertas, ONG que fiscaliza os gastos públicos. “A inversão nas fases de contratação permitiria escolher a melhor proposta e depois verificar a qualificação da empresa vencedora, o que evitaria as brigas judiciais comuns na fase de qualificação. Além disso, hoje a Lei 8666 prevê a realização de duas licitações – uma para o projeto e outra para a obra – que seriam unificadas. Essa solução não é inédita e já foi aplicada no Reino Unido e no Canadá em situações parecidas.”

O presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Rio (Faerj), Djalma Neves, admite que não existe um plano B caso o acordo não seja cumprido. “A nossa única alternativa é confiar na Justiça”, comenta Djalma, que representa a CBA nas negociações.

O novo autódromo será construÁ­do em Deodoro, no subúrbio do Rio, em um terreno hoje utilizado pelo Exército para o treinamento de forças especiais. Djalma Neves acredita que foi um erro permitir a utilização da área do autódromo para a construção das instalações do Pan, mas admite que não há possibilidade de retrocesso. “Foi um erro cometido lá atrás”, sentencia o presidente da Faerj. “As intervenções foram mal planejadas. Hoje o Maria Lenk não recebe nem o Troféu Maria Lenk. Mas não há como voltar no tempo.”

No lançamento do concurso para a construção do Parque OlÁ­mpico, o presidente do COB e do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, lembrou que boa parte das estruturas tem que estar pronta no máximo em julho de 2015 para a realização de eventos-teste. O prefeito Eduardo Paes afirmou que, para evitar atrasos, as obras deveriam começar ainda no segundo semestre do ano que vem. Só que tudo isso depende da demolição de Jacarepaguá. E pelas contas do presidente da Faerj, é melhor correr para tirar o novo autódromo do papel.

“Acredito que em um ano seja possÁ­vel construÁ­-lo, mesmo que nem toda a infraestrutura do entorno fique pronta. Menos que isso, impossÁ­vel”, vaticina Djalma Neves. “Há um acordo judicial que tem que ser cumprido. Tenho acompanhado o estudo da FGV e se tudo correr bem vamos chegar a uma boa solução.”

O COB, através da sua assessoria de imprensa, informou que atuou apenas como mediador do acordo e não tem qualquer ingerência na condução do projeto de construção do novo autódromo. Procurada pelo UOL Esporte, a Prefeitura do Rio, signatária do acordo, informou também via assessoria que prefere não se pronunciar sobre o assunto.

AUTOMOBILISMO NO RIO CORRE RISCOS?

Presidente da Faerj, Djalma Neves alerta que o fechamento de Jacarepaguá antes da entrega de Deodoro prejudicaria muito o automobilismo no Rio. Para ele, a cidade não pode ficar nem um minuto sem um autódromo internacional em funcionamento.

“Quando falam em automobilismo, as pessoas só pensam no piloto e esquecem a indústria e todos os profissionais envolvidos”, defende. “O automobilismo movimenta muito mais dinheiro do que a maioria das modalidades olÁ­mpicas. Se falarmos só na Fórmula 1, temos oito tÁ­tulos mundiais. Quantas modalidades olÁ­mpicas têm resultados parecidos?”, completa.

Há quem defenda a construção de um circuito de rua como alternativa, solução criticada pelo grupo SOS Autódromo RJ, que em 2007 era um dos mais ativos contra a construção das instalações do Pan que hoje dividem espaço com a pista em Jacarepaguá. “Como transferir todo o calendário de provas do Rio para um circuito no Aterro?”, pergunta André Buriti, um dos fundadores do movimento. “Sem falar que levantar qualquer estrutura por lá sem ferir o marco paisagÁ­stico é muito difÁ­cil.”

Fonte: UOL