IndyCar: Helinho: “Há pelo menos dez pilotos em condições de vencer na Indy”

Na entrevista abaixo, o tricampeão da Indy 500 fala da famÁ­lia, do esporte e de suas ambições

Helio Castroneves tem sido o grande nome brasileiro na Fórmula Indy. Vencedor de uma das três etapas, lÁ­der até a corrida que antecedeu a Itaipava São Paulo Indy 300 Nestlé, este rebeirãopretano de 36 anos será um dos quatro brasileiros na disputa da etapa brasileira da categoria, marcada para o dia 29 de abril, no Circuito do Anhembi, em São Paulo.

Na entrevista a seguir, Helinho, como ainda é chamado pelos amigos e fãs, fala da missão de tentar retomar a liderança da categoria em São Paulo: “Quero inverter essa situação”. Ele também lista seus candidatos a vitórias este ano – “São uns 10; a Indy é muito competitiva” – e avalia as chances da KV Racing, dos brasileiros Rubens Barrichello e Tony Kanaan: “É uma equipe em evolução e logo vai ganhar corridas”.

Castroneves surpreende ao afirmar que a geração de vácuo do novo modelo da categoria, o Dallara DW-12, é “brutal”, e diz que sua grande meta é vencer pela quarta vez as 500 Milhas de Indianápolis. Sobre ser campeão, ele diz: “Nunca venci o campeonato, bati na trave duas vezes mas quero concretizar esse sonho”.

O brasileiro também falou sobre o australiano Will Power, seu companheiro de equipe, vencedor das duas edições da corrida brasileira e também o nome do momento na Indy: “É um grande talento, muito dedicado… há um respeito enorme entre a gente”. Confira a Á­ntegra da entrevista de Helio Castroneves:

Como está sua adaptação ao novo carro?
Helio Castroneves – Realmente, não tive problemas de adaptação. O carro é rápido, mais moderno, mais seguro e isso permite que a gente busque os limites de maneira mais rápida. Por ser um equipamento totalmente novo, temos ainda muito trabalho para encontrar o ponto ideal, mas é um carro fácil de se trabalhar e que responde prontamente a qualquer experiência que você faça. No misto nem tanto, mas uma coisa que a gente vai ter de se acostumar é com a brutal geração de vácuo que o carro produz no oval, então, andar no tráfego numa prova como Indianápolis, por exemplo, será um desafio. Até agora só fizemos um teste no oval de Indianápolis, quando testamos o kit aerodinâmico da Dallara e acho que valeu muito. Logo depois da São Paulo Indy 300, temos marcado um outro teste em oval, dessa vez no Texas, o que vai permitir somar muitas informações úteis para chegar em Indianápolis em ponto de bala.

Você manteve a opção por continuar a frear com o pé esquerdo. Ainda acredita que é uma vantagem?
HC – Sobre a questão do freio, tivemos de nos acostumar com o sistema de carbono, que passamos a contar a partir da introdução do Dallara DW-12 na categoria. Freia pra caramba! Hoje você não precisa “sentar o sapato” no freio, pois é um sistema muito sensÁ­vel. Quer dizer, não foi tão sensÁ­vel assim a ponto de evitar o acidente em Long Beach (com Rubens Barrichello), mas é sem dúvida sensacional. Frear com o pé esquerdo já não é novidade para mim. Apesar de eu ser da “escola antiga”, quando a gente ainda tinha o pedal de embreagem e a alavanca de câmbio, treinei bastante para assimilar essa nova técnica e agora estou bem Á  vontade. Como todo o sistema de troca de marcha está no volante, os carros agora têm apenas os pedais de freio e acelerador. Nada impede que um piloto utilize um sistema diferenciado fornecido pelo fabricante para frear com o pé direito, mas eu preferi aprender uma nova técnica a fazer modificações no sistema.

Quem são seus principais rivais na briga pelo tÁ­tulo? Entre eles, quais você destacaria neste ano? Por quê?
HC – Como você pode notar, a Fórmula Indy é uma categoria bem equilibrada. Não existem discrepâncias gigantescas entre uma equipe e outra. Há, sem dúvida, as mais fortes e as mais modestas, mas todas utilizam o mesmo equipamento, no caso atual o chassi, e mesmo na disputa entre motores há um certo equilÁ­brio porque foram projetados dentro de um mesmo regulamento. Nesse inÁ­cio de ano a Chevrolet aparentemente começou melhor, mas é bobagem imaginar que isso vai durar para sempre. Tenho certeza que Honda e Lotus estão trabalhando forte para alcançar o nÁ­vel que procuram. Estou falando tudo isso para dizer que existem pelo menos uns 10 pilotos que são candidatos Á s vitórias e ao tÁ­tulo. Não existe o maior rival, mas diria que os meus companheiros de equipe são fortes rivais, pois contam com o mesmo equipamento que eu. A Ganassi não começou tão bem, mas quem tem Dario Franchitti e Scott Dixon é sempre candidato ao tÁ­tulo, além do próprio Graham Rahal. A Andretti está muito bem com o próprio Marco, o Hinchcliffe e o Hunter-Reay. A KV está em plena evolução com o Rubinho e o Tony. Logo vão ganhar corridas e o Viso também é osso duro de roer. Então, é uma moçada competitiva que faz esse campeonato tão bom como é.

Se você tivesse que escolher três metas para este ano na carreira, quais seriam?
HC – Tenho duas metas primordiais esse ano. A principal delas é vencer pela quarta vez a Indy 500 e fazer parte do grupo de maiores vencedores da corrida ao lado dos “imortais” A. J. Foyt, Rick Mears e Al Unser Senior. Nunca venci o campeonato. Bati na trave duas vezes e, portanto, quero concretizar esse sonho de ser campeão da IndyCar. Minha terceira meta é poder colaborar ao máximo para que o Team Penske seja campeão esse ano. Claro que preferencialmente comigo, mas se não der, que seja com o Will ou com o Ryan. Roger Penske merece isso.

Como você avalia esse inÁ­cio de campeonato?
HC – O meu inÁ­cio de campeonato foi o melhor possÁ­vel. Depois do ano complicado que tive em 2011, começar o campeonato vencendo em St. Pete foi o máximo. Em Barber cheguei em 3º e pude manter a liderança do campeonato. Pena foi o que aconteceu em Long Beach. A coisa já começou complicada por causa da troca de motores, que implicou numa punição de 10 posições no grid para todo mundo que usa Chevrolet. Então, imagine você, largar em 18º numa pista de rua não é mole, não. E ainda teve aquele acidente na última volta com o Rubinho. Quer dizer, não foi uma boa prova. Mas no cÁ´mputo geral sou vice-lÁ­der e quero inverter essa curva descendente em São Paulo.

Há alguma surpresa ou tudo está acontecendo como esperado?
HC – Acho que a grande surpresa é o desempenho dos motores Honda. Mas, como disse antes, tenho certeza que isso é momentâneo. Daqui a pouco vão estar infernizando a vida da gente.

Apesar da sua carreira vitoriosa e de repercussão internacional, você nunca venceu uma corrida de categoria top no seu paÁ­s. É o que falta?
HC – Acho que os recordes estão aÁ­ para serem batidos. Então, estou sempre motivado a buscar esses desafios. Sem dúvida, vencer em São Paulo seria uma alegria imensa e é uma das minhas grandes metas.

Você e Will Power logo se destacaram entre os candidatos ao tÁ­tulo. A Penske é capaz de lhe dar a ambos equipamento exatamente igual?
HC – Sem dúvida. A Penske é uma equipe fantástica e coloca Á  disposição dos seus pilotos os mesmos equipamentos e recursos. Cada piloto tem um engenheiro, um estrategista e seu grupo de mecânicos, então, o fator humano conta muito na hora de tomar as decisões, Aqui não existe essa coisa de tudo de melhor ir para um piloto e os demais ficarem chupando o dedo. Roger Penske é profissional demais e sempre foi assim.

Nos dois primeiros anos, Will Power reinou absoluto nas ruas de São Paulo. O que ele tem tecnicamente que se adapta melhor Á  nossa pista? Você tem trabalhado “nesse fundamento”, como dizem no futebol?
HC – Não existe uma técnica que justifique as duas vitórias do Will em São Paulo. Como você sabe, a Fórmula Indy é composta de diversas variantes e a prova de São Paulo teve a chuva reinando nos dois anos anteriores. Will venceu, inicialmente, por ser muito competente, o trabalho de estratégia e pit de seu grupo foi perfeito e ele soube aproveitar as circunstâncias adversas a seu favor.

Como você define Will Power como piloto?
HC – Um grande talento, muito dedicado ao trabalho, muito focado no trabalho em equipe e um cara muito divertido.

Como é a relação entre vocês? Há amizade sincera, ou é o respeito profissional que vigora?
HC – Pode parecer frase feita, mas na verdade a Penske é como uma famÁ­lia. Há o “commitment” entre todos e as relações são sempre as melhores. Eu sou um cara muito aberto e convivo nessa famÁ­lia desde 2000, então, estou mais do que familiarizado com o ambiente. As condições que a equipe nos dá e a maneira como os pilotos são tratados, logo de cara, oferece para todos as condições ideais para que o respeito profissional impere. Agora, como Ryan, Will e eu estamos juntos há tempos, hoje somos realmente muito amigos, nos divertimos bastante e, sobretudo, há um respeito enorme entre a gente.

Em quais pistas você espera se destacar este ano?
HC – Eu quero me destacar em todas, sem dúvida. É um campeonato longo e, para ser campeão, você precisa ser constante. Mas, sem dúvida, Indianápolis é a prova mais importante do calendário e é onde quero me destacar, mesmo.

Seu estilo é mais ajustado para algum tipo de traçado especÁ­fico?
HC – Claro que, como eu vim da escola dos mistos, tive de me adaptar aos ovais. Hoje, porém, Graças a Deus, com toda experiência que tenho estou muito a vontade e qualquer tipo de pista. Desculpe, não me entenda mal, não quero parecer prepotente. É que, com tantos anos de experiência, consegui me moldar aos diversos traçados do calendário e quanto a isso estou bem confortável.

Sua mulher e sua filha estão com frequência nas corridas. O que isso significa para você?
HC – Eu adoro quando todos estão presentes, tanto a Adriana e a Mikaella, minhas princesas, quanto minha irmã e meus pais. Adoro ter a famÁ­lia por perto e isso é muito bom. É maravilhoso chegar Á  noite, de volta do trabalho, em casa ou no hotel, e encontrar aqueles bracinhos vindo em sua direção para um abraço. É tão revigorante que nada do que tenha acontecido de difÁ­cil naquele dia tem mais peso do que esse carinho.

Se você vencer a Itaipava São Paulo Indy 300 Nestlé, podemos esperar mais uma aparição do Homem-Aranha?
HC – Mas não tenha dúvida alguma sobre isso. Se tem Castroneves no primeiro lugar do pódio, tem Homem Aranha na parada.

A Itaipava São Paulo Indy 300 Nestlé terá transmissão ao vivo pelos canais Band e Bandsports, além das rádios Bandeirantes e BandNews FM.