No Dia Mundial da Paz, Dakar reúne 49 paÁ­ses, alguns em conflito

Neste 1º de janeiro o acampamento em Jedá, na Arábia Saudita, é formado por um mosaico de bandeiras

Divididos entre pilotos, navegadores e o mecânico obrigatório que vai dentro do veÁ­culo na categoria Caminhão, somente entre os competidores o Rally Dakar 2021 reúne representantes de 49 paÁ­ses. O Brasil vai com força na categoria UTVs com a dupla Reinaldo Varela/Maykel Justo e o navegador Gustavo Gugelmin (que neste ano compete em parceria com o piloto americano Austin Jones), além das duplas Marcelo Gastaldi/Lourival Roldan e Guilherme Spinelli/Youssef Haddad que disputarão a categoria Carros.
Neste primeiro de janeiro, Dia Mundial da Paz, o Dakar é a maior concentração de nacionalidades em atividade no planeta. â€œÉ uma espécie de ONU do esporte”, pontua Varela, que tenta o bicampeonato do Dakar pela equipe Monster Energy Can-Am. Ele e Gugelmin venceram em 2018.
O Dakar também é um mosaico da atual fase do planeta. Entre os paÁ­ses presentes, alguns enfrentam situações de conflito em suas fronteiras, que já causaram milhares de mortes. É o caso de Rússia e Ucrânia, que vivem dias de tensão e desconfiança devido ao suposto apoio dos russos a grupos separatistas no paÁ­s vizinho. Situação semelhante Á  dos gigantes China e Ándia, que em 2020 viram incursões armadas em suas fronteiras e, nos últimos meses, assuntam o mundo ao posicionar mais de 100 mil soldados na região dos Himalaias.

Simbolismo – “Em contraposição a tudo isso, é de um simbolismo muito bonito o fato de essas bandeiras se cruzarem nas trilhas do Dakar, no melhor espÁ­rito de esportividade e até fraternidade – por que faz parte da ética do Dakar ajudar um competidor em sérios apuros. E isso não é raro”, diz o navegador Maykel Justo. “Mais do que isso, todos convivemos em paz e clima de colaboração nos acampamentos e refeitórios, até mesmo pela questão da covid”, completa o navegador da equipe Monster Energy Can-Am.
No lado econÁ´mico, chama a atenção a crescente participação de representantes da pujante economia chinesa e de paÁ­ses da penÁ­nsula árabe impulsionados pelo petróleo. Nestes últimos, salta aos olhos a presença do prÁ­ncipe catarense Nasser Al-Attiyah e do xeique emiradense Khalid Al Qassimi. Al-Attiyah, especialmente, é grande destaque por ser considerado um dos melhores pilotos do mundo.
Dez paÁ­ses latino-americanos estão representados: Argentina, BolÁ­via, Brasil, Chile, ColÁ´mbia, El Salvador, Equador, México, Peru e Uruguai. Mas há nacionalidades com grande tradição nos rallies que surpreendem pela pequena representatividade, casos da Suécia e Noruega. Potência destacada das indústrias automobilÁ­stica e motociclÁ­stica, o Japão também está muito ausente. O paÁ­s natal de lÁ­deres mundiais como Toyota, Honda, Mitsubishi, Kawasaki e Yamaha conta com apenas um piloto na categoria Carros (Akira Miura), além do trio Teruhito Sugawara/Hirokazy Somemiya/Yuji Mochizuki em um caminhão da nipÁ´nica Hino Motors.

Impacto da pandemia –A crise sanitária mundial assustou os organizadores do Dakar, assim como o fez nos demais esportes. Chegou-se a prever uma fraquÁ­ssima participação e, como nas demais modalidades, houve o receio do cancelamento da prova. Mas o evento se recuperou. Com 321 veÁ­culos inscritos na edição 2021, o atual grid é apenas 6,1% menor que o da última prova (342 veÁ­culos) e 4,2% mais enxuto que a média dos últimos cinco anos da corrida (335 veÁ­culos). Em 1993, seu pior ano, o Dakar largou com 153 veÁ­culos.
“Um ponto importante para o bom grid do Dakar é que ele reúne as equipes e fábricas mais profissionais do rally mundial. E nesse nÁ­vel o impacto econÁ´mico é menor”, opina Reinaldo Varela, único brasileiro contratado por uma equipe de fábrica que compete no Dakar, a canadense Can-Am, marca lÁ­der mundial entre os UTVs. “Outro fator é o momento: o mundo está lidando melhor com a pandemia e tem a perspectiva da chegada próxima da vacina. Psicologicamente, acho que isso ajudou bastante a realização da prova”, continua Varela.
Com largada no próximo domingo, dia três de janeiro e disputada inteiramente na Arábia Saudita, a 43ª edição do Dakar terá em seus 7.646km um total de 4.767km de especiais – trechos cronometrados em alta velocidade. Os restantes 2.879km são correspondentes aos deslocamentos entre os pontos de largada e chegada em cada um dos doze dias. O roteiro da prova começa e termina Jedá. Além de Monster Energy e Can-Am, Reinaldo Varela e Maykon Justo disputam a prova com apoio de Norton, Divino Fogão e Motul.