Senador quer banir motores a diesel e gasolina do Brasil até 2030

Reino Unido (2040), França (2040), Alemanha (2030), Ándia (2030), Noruega (2025), Suécia (2019). Estes são alguns paÁ­ses que já definiram datas para banir automóveis com motor a combustão das linhas de produção e das ruas de seus principais centros urbanos — medida que já faz grandes grupos automotivos se movimentarem em busca de alternativas, como dar exclusividade ao desenvolvimento de hÁ­bridos plug-in, elétricos e modelos a célula de energia. Mas e o Brasil?

Apesar do nosso paÁ­s sequer ter conseguido estabelecer, até hoje, uma polÁ­tica que incentive o uso de automóveis mais eficientes e menos poluentes, já existe proposta no Senado para que motores a diesel e a gasolina também sejam proibidos por aqui. E no mesmo prazo das grandes nações: de 2030 a 2040.
Tramita na Casa há algumas semanas o Projeto de Lei 304/2017, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que estabelece datas parecidas para impor um fim aos veÁ­culos movidos a combustÁ­veis fósseis — gasolina, GNV e diesel. Motores a etanol e biodiesel, inicialmente, poderiam seguir em produção, ao lado de opções elétricas.
De acordo com a proposta do parlamentar, a partir de 2030 ficaria proibida a venda de veÁ­culos novos com motores a diesel e gasolina.
Mas a proposta vai além: dez anos depois, em 2040, seria vetada a circulação de veÁ­culos com estes tipos de motores, inclusive os já existentes. Apenas algumas categorias especÁ­ficas, como carros de colecionadores, teriam a circulação permitida.
Em conversa com UOL Carros, o Nogueira afirma que o projeto ainda aguarda a designação de um relator e será submetido Á  análise da CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) e da Comissão de Assuntos EconÁ´micos do Senado. A expectativa é ver a proposta aprovada nas duas comissões ainda este ano, após a realização de audiências públicas, para então ser encaminhada, em caráter terminativo, para votação do plenário da Câmara dos Deputados. O parlamentar crê que seu projeto será aprovado até o fim de 2018.
“Não vejo dificuldades para a aprovação. É uma tendência mundial, vem acontecendo em diversos paÁ­ses que já criaram ou estão criando uma legislação para que essa proibição aconteça. É uma situação que a gente tem de enfrentar, melhorar a qualidade do nosso meio ambiente. Um sexto das emissões de dióxido de carbono no mundo vem disso”, afirma o senador.
Etanol é alternativa temporária
Considerado um projeto genuinamente brasileiro e uma alternativa sustentável aos derivados de petróleo, o etanol escapa da proibição inicial do projeto de lei, mas também sujeito a um limite.
CombustÁ­vel proveniente de fonte renovável (a cana-de-açúcar) e com emissões bem mais baixas que a da gasolina, o etanol tem duas dificuldades, segundo o senador: primeiro, não tem competitividade para sobreviver no mercado local; e, na comparação global, será ofuscado pelo movimento mundial de eletrificação, ainda que seja alternativa mais limpa, simples e acessÁ­vel.
“Acho que daqui a cerca de 20 anos o etanol não será mais usado porque as tecnologias no mundo todo estão focando nos elétricos. Não acredito que esse combustÁ­vel irá seguir em desenvolvimento apenas no Brasil”, avalia.
Assim, Nogueira se diz aberto para ajustar seu Projeto de Lei a deliberações extras sobre etanol e eletrificação que possam surgir de movimentos como o programa automotivo “Rota 2030” (projeto de metas para o setor automotivo), cuja discussão junto ao Governo está atrasada e que, ainda assim, prevê poucos avanços para elétricos e hÁ­bridos.
Para Nogueira, a possibilidade de ter carros apenas com motores elétricos num segundo momento — ainda que sem data definida — faz parte do projeto:Â
“Não teria maiores problemas em ajustar e adaptar o texto, mas temos de criar um foco nos veÁ­culos elétricos. Isso tem de acontecer no Brasil. Faremos audiências públicas com indústrias envolvidas, seja do petróleo, seja automobilÁ­stica, e chamar também entidades ligadas ao meio ambiente para definir se a data é correta”.
Ceticismo das marcas
Procurados nos últimos dias por UOL Carros, executivos da indústria teceram panorama com maior ou menor grau de ceticismo em relação Á  adoção de uma realidade baseada em modelos elétricos no Brasil.
Atualmente, toda iniciativa que fuja de motores a combustão depende de importação (e dos sabores do câmbio). Este ano, segundo dados da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) e da ABVE, já são 6 mil unidades “verdes” vendidas até setembro (boa parte desse número, de carros hÁ­bridos simples). O número é muito superior ao do último ano no Brasil, mas apenas uma fração do que se observa na Europa: computando apenas hÁ­bridos, foram 280 mil unidades em 2016, devendo superar as 300 mil unidades este ano.
David Powels, presidente e CEO da Volkswagen, afirmou em entrevista a UOL Carros que o futuro dos automóveis elétricos em nosso paÁ­s “depende de investimentos em infraestrutura, especialmente no que se refere Á  disponibilidade de energia, e também de uma polÁ­tica de governo definida, incluindo incentivos fiscais para a aquisição dos carros ‘verdes’”. Nada disso é sequer discutido pelo governo no momento, restando 13 anos para o momento inicial do projeto do senador Nogueira.
Johannes Roscheck, presidente da Audi do Brasil, também enxerga uma realidade pessimista para a proposta de Nogueira: “Não vejo espaço para um movimento de eletrificação no Brasil em dez, 20, nem nos próximos 30 anos”, afirmou em conversa durante o Salão de Frankfurt (Alemanha). Para o executivo, apostar firme em motores flex mais eficientes ou, talvez, em hÁ­bridos com etanol (motor elétrico em conjunto com motor movido a álcool) possa ser uma alternativa: “O Brasil tem essa tecnologia na mão, que é limpa e talvez o mais inteligente seja aperfeiçoá-la”.
Já o presidente da Associação Brasileira do VeÁ­culo Elétrico, Ricardo Guggisberg, acredita que adiar o desenvolvimento do projeto de elétricos no Brasil é atitude semelhante a “tapar o sol com peneira”, ainda que o cenário pareça distante e até irreal. Tudo por conta do cenário mundial, que poderia deixar o paÁ­s isolado, situação ainda pior em termos econÁ´micos: Â
“Essas regras do comércio internacional [projetos elétricos em passo avançado nos principais paÁ­ses] são inalianávais. Se quiserem barrar, não vão conseguir, indústrias vão vender carros elétricos aqui no paÁ­s de um jeito ou de outro. Então é preciso termos um pontapé para produção local, também”, afirmou Guggisberg durante abertura do Salão do VeÁ­culo Elétrico de São Paulo, na última semana.
Para o presidente da associação de elétricos, porém, é preciso haver planejamento e discussão adequados: “Existe uma questão de equilÁ­brio do parque industrial local. Se mexer nisso de modo rápido ou impensado, gera desequilÁ­brio e até desemprego, mas governo e indústria vão ter de se mexer e com velocidade, porque mudanças vão acontecer”.
Ciro Nogueira afirma que discussão é necessária, mas afirma que um dos principais entraves citados é falacioso: o de que eliminar motores a combustão no Brasil levaria ao apagão.
“Não vai faltar energia. O Brasil já está se encaminhando para a autossuficiência na geração de eletricidade, incluindo as fontes limpas e renováveis como eólica e solar, que têm avançado bastante. Em 2030, parte dos veÁ­culos comercializados aqui será elétrica e, em 2040, só haverá esse tipo de automóvel no Brasil”, garante o senador.
Fonte: UOL Carros