Coluna: ‘O eterno rei das pistas’, por Renato Bellote Gomes

Quando se fala da história do automobilismo mundial logo pensamos em Le Mans, uma pista legendária, que glorificou pilotos e máquinas através dos anos. A prova de longa duração mais famosa do mundo, com sua largada caracterÁ­stica, foi palco de vários duelos entre bólidos da velocidade, destacando-se entre eles um carro que se tornou sinÁ´nimo de vitória: o Ford GT 40.

No inÁ­cio da década de 60, a Ferrari dominava o cenário automobilÁ­stico e reinava soberana nas pistas européias. A Ford tinha como um de seus objetivos, a idéia de fabricar um concorrente Á  altura da rival italiana. Para transformar esse projeto em realidade, a empresa convocou um time de projetistas e pilotos para desenvolver o novo carro, entre eles o mÁ­tico Carrol Shelby.

Após dois anos de pesquisa e trabalho duro, em 1964 foi criado o GT 40, quatro letras que iriam mudar para sempre a história do automobilismo mundial. O bólido ficava a 40 polegadas do chão, por isso a escolha técnica do numeral. O motor escolhido foi um V8 de 4,7 litros, que desenvolvia 390 cavalos de pura potência. Câmbio de cinco marchas e freios da marca Girling fechavam o pacote.

A estréia do GT 40 nas pistas ocorreu nos 1.000 QuilÁ´metros de Nürburgring, mas um problema na suspensão tirou o carro da prova. No mesmo ano, em sua primeira participação nas 24 Horas de Le Mans, o bólido também não conseguiu terminar a corrida, devido Á  quebra do câmbio italiano em dois carros e um incêndio no terceiro.

A Ford não se intimidou com esses resultados negativos e, em 1965, sob o comando de Carrol Shelby, criou o Mark I. O novo modelo adotou o propulsor do Cobra, pneus Dunlop e uma caixa de câmbio alemã, mais resistente. Os resultados não tardaram a chegar, com um segundo lugar em Sebring e uma vitória na Flórida, deixando para trás a concorrência.

No mesmo ano foi desenvolvido o Mark II, com um monstruoso motor de marcas respeitáveis: 7,0 litros, com potência de 425 cavalos a 6.200 rpm. Trazia como novidades discos de freio ventilados e caixa de câmbio com quatro marchas. Apesar do peso de 280 kg, o novo motor levava o carro a 325 km/h. A arma da Ford estava pronta.

Mas, novamente, quebras de câmbio e alguns outros contratempos tiraram a vitória das mãos da Ford, apesar dos carros se mostrarem rápidos.

No ano seguinte o GT 40 finalmente conseguiu realizar seu objetivo e se consagrar em Le Mans. Desse modo carimbou o passaporte de entrada para o hall da fama, obtendo as três primeiras posições na prova. Em 1967, a Ford repetiu o sucesso, garantindo as primeiras colocações com sua equipe oficial.

O ano de 1968 trouxe mudanças no regulamento, com a limitação da cilindrada dos competidores. A Ford e sua rival Ferrari se retiravam oficialmente da prova. O desafio passou a ser encarado, então, por equipes particulares, que escreveram novas páginas na história do automobilismo.

Nos últimos dois anos de participação nas pistas, o GT 40 faturou novamente as 24 Horas de Le Mans e o campeonato mundial, além de vitórias na Inglaterra, Monza e Watkins Glen. Despedia-se assim, em 1969, após uma épica briga com a Porsche em Le Mans, escrevendo seu nome na galeria dos grandes vencedores.

O bólido da Ford ficou marcado para sempre pelo estilo único, ronco embaralhado do motor e comportamento nervoso nas pistas. Um verdadeiro rei, que até hoje recebe a cortesia dos súditos quando passa rasgando a reta.