Entidades questionam privatização de Interlagos no Ministério Público

A privatização do Complexo de Interlagos ganhou mais um capÁ­tulo nesta semana. O caso foi levado ao MPE (Ministério Público Estadual) por entidades dedicadas Á  prática do esporte a motor. No dia 24, os órgãos protocolaram uma petição na qual questionam formalmente o Projeto de Lei 01-00705/2017, que almeja viabilizar a prática do processo de privatização do complexo de Interlagos, onde funcionam o Autódromo José Carlos Pace e o Kartódromo Ayrton Senna. Já a Secretaria de Desestatização e Parcerias informa que ainda não foi notificada pelo MPE.

A ação, liderada pela Federação de Automobilismo de São Paulo (FASP), é respaldada pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), pela Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) e pela Federação Paulista de Motociclismo (FPM).

De acordo com Sergio Berti, coordenador do movimento “Interlagos Hoje” e da propositura da petição, o ponto principal do documento é que além de não proteger o Complexo de Interlagos, o Projeto de Lei em questão não dá garantias que preservem a prática do esporte a motor no circuito paulistano e o uso da sua área de lazer e esporte pelo povo como em outros parques.

“Nós entendemos que as propostas apresentadas pelo prefeito João Dória Júnior carecem de fundamento básico: sua promessa de privatizar Interlagos e garantir a continuidade do uso para o qual o circuito foi construÁ­do não encontra respaldo legal. Uma vez tornado propriedade particular não há lei que garanta isso”, disse Berti.

Já a Secretaria de Desestatização e Parcerias emitiu comunicado Á  Gazeta Esportiva para posicionar “que mantém diálogo com todas as entidades que representam o esporte a motor e ressalta que a alienação está condicionada Á  imposição de restrição administrativa, destinada a proteger o espaço do Autódromo José Carlos Pace e o seu uso para a prática de esportes a motor. O projeto de lei também prevê a obrigação do comprador de assumir os contratos já firmados pelo atual gestor do autódromo, respeitando as datas comprometidas.”

Do outro lado, o advogado responsável pela redação da peça protocolada, David Chien, alega que o Projeto de Lei tem ampla base para uma ação judicial.

“Nós acreditamos que o assunto tem ampla base para que o Ministério Público do Estado de São Paulo se oponha ao Projeto de Lei, tomando as medidas legais cabÁ­veis. Após analisarmos esse documento entendemos que não há garantia legal suficiente para proteger o Complexo de Interlagos e seu uso para o esporte a motor, porque, além de buscar autorizar a venda do Autódromo e do Kartódromo, prevê a desafetação de ambos, retirando-lhes a destinação especÁ­fica ao interesse público. Além disso as atividades praticadas no local têm importância econÁ´mica, educacional, cultural, social e cientÁ­fica, sem deixar de lado sua relevância histórica”, declarou.

A Secretaria, por sua vez, informa que “o PL ainda passará por segunda votação na Câmara Municipal, que poderá convocar audiências públicas para debater o assunto. A SMDP permanece Á  disposição para participar do diálogo com a sociedade.”

O pedido de análise do Ministério Público Estadual contra o processo de privatização do Complexo de Interlagos destaca que o local é uma área de lazer importante para a região e oferece condições para a prática de vários esportes e atividades variadas, além de gerar empregos de alto Á­ndice de especialização. No local, também funcionava a escola de mecânica que fechada recentemente.

Além disso, afirmações de que o complexo gera prejuÁ­zo aos cofres públicos não correspondem Á  realidade dos fatos, segundo Berti. â€œÉ preciso deixar claro que o balanço financeiro no perÁ­odo de nove meses do ano que o autódromo é ocupado pelo automobilismo nacional e por shows de música é bastante positivo e gera lucro para a prefeitura. Os gastos referentes Á  preparação da pista para a prova de Fórmula 1, porém, não geram receita financeira que cubram as reformas realizadas especificamente para esse evento”, ressaltou.

Os próximos passos do processo são a definição do MPE para nome do promotor, ou promotora para analisar a demanda e, a provável consulta a outros órgãos públicos, o que pode incluir a Câmara Municipal de São Paulo, além de profissionais com conhecimentos de urbanismo e esportes a motor.

Não existe prazo estipulado para que o promotor decida se a petição apresentada é procedente ou não. Em caso de deferimento, o MPE tomará as medidas legais cabÁ­veis, instaurando a ação judicial cabÁ­vel para interditar a venda do Complexo de Interlagos Á  iniciativa privada.

Fonte: Gazeta Esportiva