Entrevista: André Bragantini Jr conversa com exclusividade com o SpeedRacing.com.br

O SpeedRacing.com.br conversou com exclusividade com o piloto André Bragantini Jr., que nessa temporada disputará a Stock Car V8 Light, depois de ter passagens por diversas categorias turismo como Copa Fiat (Uno e Pálio), Copa Clio e a própria Stock Car V8.


SpeedRacing: Como você entrou no automobilismo?

Andre Bragantini Jr.: Minha entrada no automobilismo veio desde o momento em que nasci. Meu pai, que posteriormente seria meu grande professor e incentivador, já trabalhava como instrutor na Escola de Pilotagem Interlagos e assessorando meu tio, Artur Bragantini, o qual foi um grande piloto nas décadas de 70 e 80. Nasci nesse meio e meu começo foi natural, através do kart quando eu tinha 10 anos de idade. No automobilismo em si estreei em 95 na extinta Fórmula Fiat de Turismo, categoria uno pela própria equipe de meu pai.

SR: Como foi o começo de carreira?


ABJr: Meu começo de carreira foi muito bom, correndo com grandes nomes do automobilismo nacional. Naquela época o forte era a Fiat pois a Stock estava num perÁ­odo decadente. Inclusive disputei o tÁ­tulo de estreante do ano com o Cacá Bueno, o atual campeão da Stock Car V8. Conquistei em meu primeiro ano 2 poles e 2 pódios sendo um segundo lugar na etapa final de SP com um grid de 50 carros. Era um grande espetáculo a categoria. Posteriormente fui tri campeão brasileiro da Fórmula Fiat, entre uno e pálio.

SR: Nunca passou pela cabeça correr no exterior, chegar a F1?


ABJr: Ainda tenho esse sonho, de correr um dia em alguma categoria de turismo ou protótipos fora do paÁ­s. Mas F1 não e nem nunca tive. Acompanho, adoro assistir e fico por dentro de tudo. Mas só. Meu ramo é outro, cresci no meio das categorias de turismo e agora com 28 anos fica um pouco tarde para pensar em alguma carreira deste tipo, até porque seria um novo aprendizado, um recomeço.

SR: Como foi sua primeira passagem pela Stock Car?


ABJr: Eu tive uma passagem muito importante mas irregular pela Stock Car. Em 2003 meu ano de estréia na Stock, saÁ­ direto da Clio para a V8, sem passar pela Light. E isso é muito complicado para quem sempre andou de tração dianteira de pouca potência. O estilo é outro, a adaptação leva tempo e com apenas um coletivo antes da temporada complicou um pouco. O Mauro Vogel, que foi meu chefe de equipe nos 2 anos que participei na V8 pelo qual possuo grande admiração foi o maior responsável pela minha adaptação ao Stock e muito graças a sua experiência e competência que conquistei minha pole position em BrasÁ­lia em 2003. Fomos constantemente rápidos naquela temporada, mas faltou sorte e mais experiência para mim, o que fez com que os resultados começassem a aparecer apenas no final da temporada. Já para 2004 tinhamos uma grande expectativa e até começamos bem o ano, mas após meu acidente em Tarumã o qual parei dentro da entrada dos boxes no toque do Boesel e a troca do nosso chassis fez com que tivéssemos um restante de temporada bem complicado.

SR: Existe um boato de que sua saÁ­da da equipe Vogel teria sido uma exigência do piloto Thiago Camilo. Isso é verdade ou apenas mais uma história de bastidores?


ABJr: Sinceramente ??? Não acredito nisso. O Thiago é um grande piloto e andou muito bem em 2004 para querer uma coisa dessas. Ele não precisa disso e até mesmo porque eu não era uma ameaça ao futuro dele na equipe. Nunca fomos grandes amigos, nos dávamos bem e éramos bons parceiros de trabalho. Mas é normal em um ano no qual as coisas funcionam muito bem para um e não tão bem para o outro que apareçam especulações. Dou-me bem com o Thiago assim como com a maioria dos pilotos e não possuo nenhum inimigo. Isso é coisa para quem não tem capacidade e se preocupa mais com a condição alheia do que com a sua própria evolução. Se isso fosse verdade eu sentiria muito, mas faz parte do passado e quem vive de passado não cresce e consequentemente não conquista os resultados almejados.

SR: Depois da Stock, você foi para a Copa Clio, como foi sua passagem pela categoria?


ABJr: Tive 3 temporadas pela Copa Clio, que foi em 2002 antes da Stock a qual conquistei o vice campeonato e depois da Stock em 2005 e 2006. Optei pela Clio novamente pois precisamos ser humildes e muitas vezes temos que admitir que precisamos melhorar. E eu precisava recuperar minha auto-estima e auto-confiança que tinha perdido com os maus resultados de 2004. Acho que foi a melhor coisa que fiz, mas infelizmente nas duas temporadas troquei de equipe na metade do ano porque em ambas as coisas não vinham dando certo, ou com problemas no carro ou no ambiente e funcionamento da equipe. Tanto que fui o “campeão do returno” nas duas temporadas como costumo dizer, sinal que as mudanças de equipe em ambos os casos deram resultado. Podem me perguntar então o por que não acertei na escolha desde o começo do ano, mas se pudesse adivinhar o que viria acontecer, certamente não cometeria esses erros, mas acontece.

SR: Em 2006, além de disputar a Copa Clio você disputou paralelamente a Super Clio, o que você achou da categoria?


ABJr: Era uma categoria muito interessante, com um carro excelente e um custo beneficio ótimo. Disputei metade da temporada e venci uma etapa da rodada dupla na minha estréia na categoria em Curitiba. Mas infelizmente faltou o apoio da fábrica, que por sinal acho que essa categoria merecia bastante. Ainda torço para que ela volte, nem que seja por outra montadora e acredito que logo isso virá a acontecer.

SR: Com a saÁ­da da Renault, a Super Clio também chegou ao seu final e a F-Renault deverá mudar de nome. Apesar do susto, a Copa Clio mantém-se forte graças a união de pilotos e donos de equipe. Como você que estava lá dentro assistiu toda essa mudança?


ABJr: A Clio para muitos pode parecer frágil, mas é uma grande categoria. E o mais importante é que as pessoas que trabalham nela são muito unidas. Isso que fez a diferença. Durante os 5 anos da Renault, a categoria não teve o reconhecimento que merecia. Para falar a verdade fomos pegos de surpresa e só soubemos que a Renault sairia em 2007 na última etapa do ano passado, o que não considero uma atitude muito correta. Mas com o empenho de todos lá dentro a categoria continuou e se mantém forte, e acredito muito que em 2008 ela será ainda mais forte do que já era. Eu mesmo continuo na categoria dando apoio técnico a equipe que terminei vencendo ano passado, a M2 Competições.

SR: Você sempre foi um piloto muito respeitado, muito rápido e competitivo, porém o que faltou para chegar ao tÁ­tulo?


ABJr: Faltou exatamente o que citei anteriormente que foi ter acertado na escolha da equipe desde o começo. A Copa Clio é extremamente disputada e não possui descartes, então se jogar meia temporada fora pode dar adeus ao tÁ­tulo. Mesmo assim fui 4º colocado em 2005 e terceiro ano passado, vencendo as 3 últimas etapas e perdendo o vice por apenas um ponto.

SR: Em sua última passagem você participou da Stock Car V8. Seu retorno era muito esperado por todos, mas surpreendeu por escolher a Stock Car V8 Light. Por que a categoria de acesso?


ABJr: Porque aprendi a não dar um passo maior que a perna. Tinha uma boa proposta para voltar a V8 esse ano, mas a equipe é estreante e dificilmente me daria condições de brigar por pódios e vitórias. Hoje a Stock é uma das categorias mais competitivas do mundo se não for a mais e se você não estiver sentado num carro de uma equipe de ponta, dificilmente vai brigar por vitórias e tÁ­tulo. A Stock está muito profissional e se eu fizer uma boa temporada pode me aparecer uma nova chance numa equipe forte da V8, haja visto os casos do Marcos Gomes e do Daniel Serra.

SR: Seu plano é de apenas 1 ano na categoria Light, ou ficará mais de um caso não alcance o titulo em 2007?


ABJr: Quero pensar primeiramente nesta temporada, me concentrar para fazer o meu melhor para mim e minha equipe. Final do ano a gente vê… rsrsrs… Dependendo do resultado as coisas acontecerão naturalmente, é isso que aprendi. Mas uma coisa é fruto da outra. Trabalho, sorte, competência. Se faltar um desses fatores já complica. Mas não tenho pressa, sou novo e quero procurar fazer as coisas da maneira mais correta possÁ­vel. Não tenho o ego de quem não aceita dar um passo atrás na vida. Muitas vezes é importante se retirar para voltar mais forte. E é assim que me sinto hoje.

SR: Correr pela equipe campeã de 2006 foi um fato que aconteceu naturalmente ou uma exigência sua (voltar por uma equipe de ponta)?


ABJr: Isso foi uma exigência minha. Como na V8, você tem mais condições se estiver numa equipe top. Muita gente não se importa nem quer saber o por que você não venceu ou foi ao pódio e sim fazem um pré julgamento do que ela acha que deve acontecer. E se isso não acontece pronto, a culpa recai sobre você. E depois tudo o que você fala parece desculpa. Isso é para o público em geral, imprensa, patrocinadores, etc. Então para isso não acontecer você precisa fazer a coisa certa e com as dificuldades que já tive na Stock V8 tenho que tomar muito cuidado para não cometer os mesmos erros ou posso estar comprometendo seriamente minha carreira, afinal a concorrência e a disputa são desleais em certos pontos. Eu pretendia voltar por uma equipe de ponta, mas também não esperava ser justo no carro e equipe campeã !!! rsrsrs… foi melhor que a encomenda. Mas isso só aconteceu graças a confiança do Jorge de Freitas em mim, que é o chefe da equipe ao me oferecer um teste no final do ano passado nos coletivos, o que fez com que tivéssemos um resultado muito bom e com isso o apoio da Hope, da Eurofarma e da Sascar foram fundamentais para essa minha volta a Stock Car. Tenho certeza que faremos um ótimo trabalho juntos. Eu, a equipe e meu companheiro Ariel Barranco estamos num clima muito bom e favorável para começarmos bem essa temporada.

SR: A Stock Light pode até ser uma categoria de acesso, porém não existe “bobo” correndo lá. Quem você apontaria ao seu lado como nomes favoritos ao tÁ­tulo de 2007?


ABJr: Bobo ??? o mais bobo lá acho que sou eu… rsrsrs… Temos vários pilotos muito bons. O Rafael Daniel continua, o Betinho Gresse, o Renato Russo, o meu companheiro Ariel Barranco, entre outros. Fora a volta do Diogo Pachenki. Mas não vou citar nomes pois o favoritismo se faz dentro da pista e até o campeonato não começar todos estão nas mesmas condições. Espero apenas fazer a minha parte para no final do ano poder ser considerado um deles.

SR: No grid você disputará as curvas com uma mulher: Fernanda Parra. Como você vê a participação das mulheres no automobilismo?


ABJr: Acho muito legal e se gosta tem mais é que participar mesmo. Tenho uma boa amizade com a Bia Figueiredo e conheço de tempo a Fernanda. Inclusive fui instrutor de 16 pilotos mulheres no único campeonato brasileiro feminino de ford fiesta que aconteceu em 99. Era o responsável para assessorar técnicamente todas elas. Na realidade ao final do ano acho que poderia me formar em psicologia, pois lidar com a cabeça de 16 mulheres não é fácil não…rsrsrs… Mas foi uma experiência muito agradável que só veio a somar ao meu currÁ­culo. Esse negócio de preconceito não está com nada. Mas essa realidade devagar está mudando.

SR: Poderia deixar uma mensagem final ao internautas do SpeedRacing.com.br?


ABJr: Gostaria de dizer que foi um grande prazer ter feito essa entrevista com o SpeedRacing e espero que os fãs do automobilismo torçam cada vez mais pelo nosso crescimento e que com certeza torçam por mim também ! rsrs… Muito obrigado a todos que destinaram um pouquinho do seu tempo para ler minha entrevista e minha mensagem é de que lutem e acreditem sempre nos seus sonhos e objetivos, sempre com a cabeça no lugar !!! Grande abraço