Entrevista: SpeedRacing.com.br conversa com exclusividade com Adriano Medeiros

O piloto Adriano Medeiros é mais um brasileiro tentando o caminho difÁ­cil do automobilismo. Depois iniciar a carreira no Brasil, ele se mudou para a Inglaterra, onde atualmente trabalha como instrutor de pilotagem em uma escola.
Neste ano Adriano Medeiros disputou as seis primeiras etapas do Club Formula Ford 1600 Midlands South. Mesmo em 2º lugar na tabela ele teve que abandonar a disputa, por falta de patrocÁ­nio, um fato comum para todos que tentam sobreviver nas pistas. Ele terminou em 9º lugar, entre 43 pilotos.

O SpeedRacing.com.br conversou com exclusividade com Medeiros, confira a entrevista:

 


1- SpeedRacing: Você começou a correr no Brasil, conte um pouco de como foi o seu inicio nas pistas.


Em 1994 eu fiz o curso de pilotagem no Curso Marazzi de Pilotagem. Logo após o curso eu comecei a trabalhar como mecânico para no mesmo curso.  Com muito esforço depois de quatro anos eu comprei um Opala da Super Stock. Eu já tinha tido um Speed 1600 sem motor e um monobloco de Omega, mais foi fazendo rolo e vendendo meu carro de rua que comprei o Opala pronto para correr.
Participei do campeonato de 1998.  Fiz quatro etapas, das onze, e fiquei em 6º no campeonato, entre 17 competidores. Participei dos 500 km de Interlagos e de mais algumas provas de Força Livre. Enfim assim foi meu inÁ­cio nas pistas.


2- E como veio parar na Inglaterra?


Não conseguia patrocÁ­nio para correr, pois não tinha um CurrÁ­culo invejável e não tinha dinheiro para investir. Sempre ouvi falar e achei que no exterior existiam pilotos profissionais. Então sempre quis vir para o exterior. Após uma tentativa de ir aos EUA não ter dado certo, eu então resolvi vir para Inglaterra. Era um momento em que eu estava mais pensando em desistir que continuar lutando. Fui ao encontro do Alex Dias Ribeiro, no autódromo e lá encontrei um estudo BÁ­blico que me levou a me converter ao Cristianismo e me tornar um atleta de Cristo. Já tinha planos de vir para Inglaterra então só aumentou minha vontade, pois agora eu contava não só com meu desejo mais com a fé em DEUS, que passei a aprender a ter.


3- Como instrutor de pilotagem você pilota praticamente todos os dias, isso lhe ajuda a manter a forma quando não está competindo?


Sem dúvida, a primeira coisa que temos que fazer pela manhã é guiar o carro na pista para checar se está tudo certo.  E durante o dia sempre faz um barulho aqui outro ali e você tem que dar umas voltas para checar. E a diversidade de carros me trouxe muita experiência.  Só o fato de estar sentado no banco do passageiro o dia todo sentido todos os movimentos do carro te dá muito tato com o carro, voce se acostuma com as reações de um carro na pista.



4- E como foi disputar as primeiras provas do Club Formula Ford 1600 Midlands South?


Foi como um sonho, pois muitos dos pilotos brasileiros começaram na Formula Ford. Todos andaram na Nacional, mas com os carros que usamos no regional. Eu sempre quiz andar de monoposto, mas nunca pude, pois no Brasil custa o planeta Terra para andar de monoposto. Por isso fui para o Turismo. Mas percebi claramente o que todos falam sobre ser uma categoria escola. Andar num carro com 400 quilos e 110cv, sem asa, só no braço é muito bom, e um ótimo aprendizado.


5- Você vinha em 2º no campeonato, com três pódios, e acabou ficando sem patrocÁ­nio. Isso foi muito frustrante para você?


Eu não diria frustrante, pois todos sabem como é o automobilismo de hoje. Está cada vez mais se tornando mais um negócio, do que um esporte. Mas ao mesmo tempo eu fiquei chateado, venho em busca de me tornar um piloto profissional e acredito que terminarei bem o campeonato. As coisas estavam caminhando muito bem, mesmo sem ter dinheiro suficiente para testar, enquanto todo mundo ia para pista na quarta antes da corrida para testar. Eu só aparecia no dia da classificação e estava andando na frente. E dando trabalhando para quem tinha muito mais tempo no carro do que eu.
A equipe sempre me disse que se eu testasse poderia alcançar melhores resultados. Sem contar uma quebra e uma batida, o melhor resultado que eles falavam era segundo ou primeiro, pois eu estava sempre entre os três primeiros. O campeão da categoria esta sendo acusado de usar um motor ilegal no festival. Se ele usou motor ilegal no festival quem garante que ele nao usava nas nossas corridas?


6- A sua equipe acabou perdendo a chance de terminar com um piloto entre os primeiros colocados. Qual foi a impressão que você deixou na equipe?


Eles foram muito bons para mim, entenderam minha situação e fizeram de tudo para que eu continuasse. Até mesmo me oferecer o carro a preço de custo. Porém não consegui patrocÁ­nio. Estou aqui há 4 anos e não conhecendo muita gente na Inglaterra ser torna mais difÁ­cil. O Team West-Tec é uma equipe com muita experiência, quer trabalhar comigo de novo e ofereceu todo suporte que eu precisar para conseguir patrocÁ­nio. Segundo o dono da equipe, Gavin Wills, ele acredita que podemos vencer corridas juntos e até pensar em campeonatos. Já e um bom passo, pois hoje não preciso pedir patrocÁ­nio somente como um piloto, mas como uma equipe, o que gera credibilidade.  E tambem demonstra que meu trabalho foi reconhecido. Ninguém melhor do que a equipe que você corre para saber se você pode vencer ou não. Nos não tÁ­nhamos tempo de acertar o carro, já que eu não testava. O carro ia para pista com um acerto já deles. Eu sentava e acelerava. Um ótimo acerto sem dúvida, mas todos sabem que andar e se adaptar e até mudar uma ou outra coisa, se necessário, ajuda.
 
7- A procura por patrocÁ­nio é um dos maiores desafios para os pilotos, como estão Á s conversas com futuros investidores?


No momento estou trabalhando bastante. E estou planejando ir ao Brasil para procurar patrocÁ­nio e também tenho alguns planos com empresas que tem negócios na Europa. Já que eu poderia gerar publicidade nos dois paÁ­ses. Existem possibilidades, mas das possibilidades a concretização é um passo muito grande no automobilismo. Seria ótimo se, os pilotos que hoje ocupam um espaço favorável pensassem em ajudar pilotos que buscam uma oportunidade. Muito se vê no Brasil pilotos investindo em equipes e outros negócios, o que não deixa de ser válido, porém aqui na Europa ex-pilotos como: Martin Brundle, Damon Hill e outros têm seus pilotos em categorias diferentes. E estão sempre em busca de novos talentos. Não sei por que no Brasil não acontece isso.


8- O brasileiro Thomas Erdos, em recente entrevista, relatou as dificuldades que teve até se firmar nas pistas, e que quase desistiu. O sucesso dele te motiva a continuar lutando?


Sem dúvida ele é um piloto que me deu uma força aqui. Ele não pode fazer nada em termos de me colocar em alguma categoria, mas sempre que precisei falar com ele sobre qualquer assunto, ele respondeu prontamente. É um lutador e sabe das dificuldades e tem um respeito aqui, que poucos pilotos têm. Todos com quem converso dizem que ele é “bota” e acelera.


9- Você tem acompanhado as corridas no Brasil? O que acha do enfraquecimento das categorias de monopostos nos últimos anos?


Acho que o enfreaquecimento do automobilismo no Brasil se dá pelo exagero. É um paÁ­s com uma economia bem diferente do que na Inglaterra, mas ainda assim custa a mesma coisa para correr na Inglaterra do que custaria para correr no Brasil.
Com valor que se gasta para correr no Brasil, em qualquer categoria de monoposto, você começa sua carreira aqui. Se você hoje quer chegar na F-1 tem que vir para Inglaterra o quanto antes. Existem categorias na Inglaterra que custam $110mil dólares ou $150mil dólares. Falta incentivo para os pilotos brasileiros. O que significa ganhar um campeonato no Brasil? Se voce tivesse incentivos como prêmios que te levassem para outras categorias seria bem diferente. Como foi que a Formula Renault começou lembra? O campeão corria de graça na F-Renault na Europa.  Se voce colocar no papel o dinheiro que se precisa para chegar na F-1 você cai de costas, porque não existe nada entre o começo e a Fórmula 1, existem até pilotos pagantes na F-1. Os pilotos brasileiros de monoposto buscam um futuro no exterior. Se eles não tiverem nada que os incentivem a vir não vale a pena andar no Brasil. É melhor terminar o kart no Brasil e vir para Europa.
Quem sabe aqui um desses ex-pilotos de F-1 não pensa em gerenciá-los?
Eu li uma noticia no site SpeedRacing.com.br que eu nao acreditei. “Raul Boesel consegue patrocÁ­nio para voltar para a Stock”. Pilotos como o Raul Boesel mereceriam ter no minimo quatro ou cinco ofertas para correr na Stock, e não ter que encontrar patrocinio para correr. Deveria ser assim nos monopostos. 



10- As competições de Turismo tem sido uma ótima opção para os pilotos. Você pretende voltar a esse tipo de prova, ou pretende priorizar os monopostos.


Já estou em busca de andar de Turismo. É um caminho natural para mim agora. Não vou desistir de andar de monosposto, mas tenho que começar a me focar em Turismo. Pilotar é algo que adoro fazer, meu trabalho me dá oportunidades interessantes, estou em um carro de corrida todos os dias, aproximadamente 120 voltas por dia de segunda a sábado.
Correr de carro é o que tenho pedido a DEUS em minhas orações, e hoje quero correr para glorificar o nome de JESUS CRISTO, a quem minha vida mudou. Se DEUS me abrir uma porta de turismo, irei fazer com prazer, pois a minha vida hoje esta nas mãos de DEUS. E quero poder ter em meu carro a mensagem que o Alex um dia trouxe ao automobilismo: JESUS SAVES.