F-Renault: Vitória mantém tradição brasileira das pistas de rua

A principal prova do gênero no paÁ­s era disputada no famoso traçado urbano da Gávea, no Rio de Janeiro, já na década de 1930.

 


Com 2.760 metros de extensão, o Circuito Urbano de Vitória, na capital capixaba, é o único representante de uma tradição que deu origem ao próprio automobilismo nacional. No próximo domingo a pista sediará a décima etapa da Fórmula Renault Brasileira, permanecendo como a única pista de rua em atividade no paÁ­s. â€œÉ uma pena não termos mais pistas montadas dentro de cidades, pois sem dúvida é nelas que o automobilismo tem mais contato com o povo e registra seu maior público”, diz o piloto Diego Nunes (Chocolates Garoto/Aura), que disputará apenas a etapa de Vitória da F-Renault. “Correr em Vitória é certeza de estar diante de um belo público, de uma massa contagiante, o que é emocionante para qualquer piloto”, destaca.


Antes em maioria no calendário, os traçados improvisados em ruas e avenidas agora são poucos. “Recentemente, a própria F-Renault cancelou a realização de uma corrida nas ruas de Salvador (BA), deixando Vitória solitária na programação do esporte a motor brasileiro, no qual predominam pistas construÁ­das exclusivamente para as corridas, os chamados autódromos”, conta Diego. “Acho que isso empobrece o esporte, pois o ideal é termos diversos tipos de traçado no calendário, pois assim os pilotos e equipes têm uma maior variedade de desafios técnicos, o que só faz melhorar a condição esportiva de todos os praticantes”, continua o piloto da Chocolates Garoto/Aura.


Como em todo o mundo, as primeiras corridas brasileiras eram realizadas em estradas abertas, e várias delas chegavam a adentrar nas cidades. O primeiro grande evento em pista de rua no Brasil aconteceu já no princÁ­pio da década de 1930, com a organização do Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no circuito da Gávea. O mais importante traçado de rua do paÁ­s da época era situado no coração da então capital federal e contava com cerca de 11 quilÁ´metros de extensão, contornando o Morro Dois Irmãos.


A largada acontecia na Rua Marquês de São Vicente, na qual os carros cruzavam os escorregadios (e perigosos) trilhos de bonde. Eram mais de 100 curvas e diferentes tipos de piso, incluindo asfalto, cimento, paralelepÁ­pedo e areia – algo inimaginável para os pilotos modernos, especialmente nas categorias de elite, nas quais se reclama de qualquer irregularidade no piso. Chico Landi, o pioneiro do Brasil nas pistas da Europa, venceu a prova em 1941, 1947 e 1948. Até Juan Manuel Fangio, pentacampeão de Fórmula 1, teve a sua participação em 1952.


São Paulo também foi palco de corridas de rua antes da construção de Interlagos. A mais importante veio em 12 de julho de 1936. Além das atrações de sucesso no Rio, uma francesa de 36 anos também chamou a atenção. Seu nome: Helle-Nice. Mas nem o acidente sofrido por ela na última volta – frustrando uma legião de fãs locais – serviu para tirar o brilho do traçado que passava pelas ruas do bairro dos Jardins e pela Avenida Brasil. “Hoje em dia, uma corrida em pista de rua em uma cidade enorme como São Paulo atrairia uma multidão incrÁ­vel”, acredita Eduardo Bassani, chefe da equipe Bassani Racing, que será defendida por Diego Nunes na etapa de Vitória. “Pena que essas coisas estão ficando no passado do esporte”, lamenta o engenheiro, cuja equipe conquistou o tÁ­tulo brasileiro de Fórmula Renault em 2005.