F1: Autosport destaca talento e dificuldades de Lucas

Revista inglesa aborda epopeia enfrentada por brasileiro em sua temporada de estreia e destaca que o piloto tem impressionado sua equipe

2010 tem sido um ano difÁ­cil para quem estreou na Fórmula 1 ou até mesmo retornou Á  categoria após algumas temporadas de ausência. Mesmo com a experiência de um heptacampeão mundial como Michael Schumacher ou de um requisitado piloto de testes como Pedro de La Rosa, os resultados têm sido difÁ­ceis de obter devido Á  falta de oportunidades de testar o carro. O que dizer então daqueles que fazem nesta temporada a sua primeira correndo na F1.

Segundo o site da revista inglesa Autosport, uma das mais respeitadas do mundo, devido Á  falta de testes esta é a temporada mais difÁ­cil da história para os estreantes. Em matéria publicada nesta terça-feira (28), o editor Edd Straw entrevista Lucas Di Grassi (Clear, Sorocred, Locaweb, Eurobike, Schioppa) e deixa bem claras as dificuldades dos estreantes – e em especial a incrÁ­vel epopeia que Di Grassi vem enfrentando e os elogiados resultados que vem registrando para a Virgin Racing, sua equipe neste ano. Lucas, aliás, foi muito bem avaliado pela revista recentemente, no ranking criado nesta temporada para avaliar todos os pilotos que participaram de provas do atual campeonato levando em conta diversos aspectos no desempenho – e que tem colocado Lucas com freqüência como o melhor entre os pilotos estreantes, superando inclusive diversos competidores mais experientes.

Tudo novo. E difÁ­cil — “Coloque-se em seu lugar. É sua primeira temporada na Fórmula 1 e você está em um carro difÁ­cil de guiar e cercado por uma equipe nova. Seu companheiro já se provou capaz de andar no pelotão da frente e o fim dos testes significa que esta é a temporada mais difÁ­cil da história da F1 para um estreante. O carro começou a temporada desesperadamente sem confiabilidade e sua equipe é incapaz de lhe dar a última atualização. E seu carro ainda está acima do limite mÁ­nimo de peso. Sem contar as seis primeiras corridas de sua carreira nas quais você não poderá ver a bandeira quadriculada sem economizar combustÁ­vel porque o tanque não é grande o suficiente (para comportar a gasolina necessária)”, resumiu o editor. O jornalista classificou a curva de aprendizado de Lucas durante o ano como “vertical”, ou seja, rápida e radical.

“Este ano tem sido um desafio completamente diferente para mim porque ao mesmo tempo que tenho de conhecer as pistas novas, encontrar o ritmo, acumular quilometragem, entender como os pneus trabalham e lidar com o fim de semana, a equipe também tem enfrentado suas dificuldades. Tivemos muitos problemas de durabilidade no começo do ano e isso no meio da construção de todo um time, então é um ano muito difÁ­cil de se estrear por uma equipe que também está em sua primeira temporada”, analisou Lucas.

O piloto de 26 anos fez uma comparação, caso tivesse estreado por uma equipe já estabelecida na categoria. “Teria sido muito mais fácil. O foco seria somente na pilotagem em vez de outras coisas como durabilidade ou economia de combustÁ­vel. Mas se por um lado tem sido difÁ­cil, este desafio fez de mim um piloto melhor no aspecto geral. Eu entendo muito mais sobre um carro de F1, estou melhor preparado para apontar o que não está correto e indicar o que funciona. Ao lado dos engenheiros, eu tenho de traçar uma rota de desenvolvimento em vez de somente sentar e guiar”, disse.

“Do ponto de vista do público e de alguns no paddock, eu poderia ter tido resultados melhores por uma equipe estabelecida, mas eu teria aprendido menos em termos de carro e desenvolvimento de equipe”, apontou. “(Se estivesse em uma equipe melhor) Talvez eu até tivesse desenvolvido menos minha habilidade de pilotar porque o carro que temos agora é muito difÁ­cil de guiar. Ele está sempre no limite, saindo de lado e cada mÁ­nimo erro tem um efeito enorme nos tempos de volta. Mas com certeza teria tido resultados melhores”, comparou.

Talento “raro” — Sua habilidade de trabalhar pelo bem da equipe e desenvolver o carro já era conhecida pelo diretor John Booth, com quem Lucas venceu o GP de Macau de Fórmula 3 em 2005 e foi o terceiro colocado no Campeonato Europeu pela Manor, equipe que deu origem Á  Virgin Racing. “Lucas tem muita velocidade e suas corridas têm sido fantásticas – acho que ele não errou nada durante a temporada toda. Ele é muito inteligente em suas escolhas e também me impressiona a maneira com a qual ele trabalha. Muitos pilotos podem guiar rápido, mas aqueles com um pacote completo são raros. Parece até que ele é piloto de F1 há muitos anos, porque tudo vem dele naturalmente para a equipe, então é como ter dois pilotos experientes, apesar de Lucas ser um estreante”, afirmou Booth.

Di Grassi enfrentou vários tipos de dificuldade durante a temporada e chegou a compará-la a uma montanha russa pela inconstância e variedade de problemas que tem enfrentado. Um exemplo é o fato de a equipe não ter conseguido entregar a mesma especificação de equipamento para ambos os pilotos – as atualizações vão primeiro para o mais experiente entre os dois. Por exemplo, Lucas teve de lidar com um carro de tanque menor (obrigando-o a manter um ritmo que economizasse combustÁ­vel) por duas corridas a mais que seu companheiro de equipe.

“Tem sido difÁ­cil para nós dois. Às vezes eu tinha só uma marcha na corrida, ou tinha que economizar combustÁ­vel, então fica difÁ­cil traçar um comparativo. Mas dentro da equipe temos uma boa idéia de onde eu poderia estar em um mundo ideal, então fica mais fácil fazer a comparação comigo mesmo”, disse.

Di Grassi registrou os dois melhores resultados da equipe em corridas até agora, e está Á  frente de seu companheiro de equipe no campeonato. “A vontade de ter um bom desempenho, a pressão pelo fato de esta ser minha primeira temporada e o fato de ver o quanto cada um na equipe tem trabalhado duro faz tudo isso possÁ­vel. Isso dá uma motivação extra, ver que meu ritmo de corrida tem sido forte comparado ao de pilotos mais experientes com carros parecidos”, afirmou Di Grassi, que por três vezes neste ano terminou corridas como o melhor piloto entre as equipes novatas.