F1: Cercado de charme, MÁ´naco também é um GP repleto de desafios técnicos para pilotos e engenheiros da F1

Recheada de peculiaridades, a prova nas ruas de Monte Carlo é diferente em tudo: até os treinos livres são realizados na quinta, ao invés de sexta-feira.

O mês de maio é reservado a corridas lendárias do automobilismo. Enquanto nos Estados Unidos é disputada a 500 Milhas de Indianápolis, a Fórmula 1 desembarca nesta semana em MÁ´naco, um principado incrustado na costa sul da França. Nas suas ruas, entre hotéis e cassinos, é montado um circuito com 3.340 metros de extensão, onde os carros da categoria máxima do automobilismo disputam uma das provas mais desafiadoras do ano para pilotos e engenheiros. “É uma corrida muito diferente das outras. Seja nos detalhes do acerto do carro, nas caracterÁ­sticas do traçado ou no ambiente em torno do GP, não há nada igual ao GP de MÁ´naco na temporada”, admite o brasileiro Nelsinho Piquet, que compete pela segunda vez na F1 em Monte Carlo.
 
Ao lado de Cingapura e do GP da Europa, em Valência, MÁ´naco é uma das três etapas realizadas em pista de rua na temporada de Fórmula 1. Outros circuitos, como o de Melbourne, na Austrália, e Spa-Francorchamps, na Bélgica, utilizam trechos de estradas públicas, mas nada se compara Á s estreitas vias do principado, que mesclam detalhes singulares como a curva de raio mais fechado da Fórmula 1 e um túnel que é atravessado a mais de 200 km/h. “Logo depois do túnel é onde fica o ponto de freada mais forte do circuito. Nós chegamos antes da chicane em sétima marcha e precisamos reduzir para cerca de 70 km/h. É o principal ponto de ultrapassagem da pista, por isso é muito importante o carro estar bem equilibrado naquela freada”, descreve Nelsinho Piquet.
 
Manter o bólido equilibrado nas frenagens e retomadas de aceleração é um dos principais desafios para os engenheiros. Não por acaso, o circuito de MÁ´naco é onde os carros mais apelam para a pressão aerodinâmica em toda a temporada. Além disso, as ruas do principado, que podem parecer verdadeiros tapetes para quem dirige um carro convencional, escondem diversas ondulações que as sensÁ­veis suspensões dos carros de Fórmula 1 detectam rapidamente. Por isso a configuração de altura dos carros é entre cinco e sete milÁ­metros maior em MÁ´naco, para evitar que o assoalho fique tocando no chão em muitos trechos da pista. A suspensão, além de ser mais macia que o normal para se adaptar Á s imperfeições do asfalto, também recebe componentes que aumentam sua resistência a toques nos guard-rails e guias que podem ocorrer durante as corridas.
 
O GP de MÁ´naco também é a única vez na temporada que os carros ganham uma caixa de direção diferenciada. Esta é capaz de dar ao volante um diâmetro de esterço até duas vezes maior que o utilizado no circuito de Barcelona, na Espanha, por exemplo. Só assim os carros de Fórmula 1 conseguem contornar curvas fechadas como a famosa ‘Loews’, a mais lenta de toda a temporada, percorrida a menos de 50 km/h.
 
Para quem está dentro do cockpit, é preciso aliar velocidade e precisão em limites máximos para extrair o melhor tempo dos carros nas ruas estreitas. “O mÁ­nimo erro em MÁ´naco pode custar muito caro. A corrida também é sempre cheia de acidentes e o momento de entrada de um safety car pode ser determinante para a estratégia”, destaca Nelsinho Piquet.
 
Até a programação da Fórmula 1 em MÁ´naco é diferente de outros GPs. Os treinos livres são realizados na quinta-feira, ao invés de sexta, como acontece nos demais circuitos. O dia seguinte aos ensaios é tradicionalmente um dia de descanso para os competidores, que só voltam Á  pista no sábado para mais uma sessão livre e o treino classificatório. A corrida, com 78 voltas de duração, tem a sua largada programada para as 9h (horário de BrasÁ­lia) do domingo.
 
História
 
Monte Carlo é o distrito do Principado de MÁ´naco que recebe a Fórmula 1. Foi criado em 1866 em homenagem ao prÁ­ncipe Charles III, e fica na riviera entre a região de Florença e a Itália – banhada pelo mar Mediterrâneo. Já o Principado é comandado pela famÁ­lia Grimaldi desde 1297, quando o genovês François Grimaldi – disfarçado de monge, conseguiu entrar no castelo de MÁ´naco, dominar o rei e tomar o poder da região. Mesmo expulso de MÁ´naco quatro anos depois, seus descendentes continuaram governando o principado e, em 1997, festejaram os 700 anos da dinastia. Atualmente MÁ´naco é governando pelo prÁ­ncipe Albert II.
 
Já o GP de MÁ´naco é realizado desde 1929, antes mesmo da criação do Mundial de Fórmula 1 – em 1950. O primeiro vencedor nas ruas do principado foi o inglês William Grover-Williams a bordo de um Bugatti. Já valendo pontos para o campeonato da Fórmula 1, Juan Manuel Fangio foi o primeiro vencedor da nova fase em 1950 – e desde 1955 a prova é disputada todos os anos ininterruptamente. O maior vencedor da história do GP é Ayrton Senna, com seis conquistas; seguido por Graham Hill e Michael Schumacher que têm cinco vitórias cada.