F1: Confira a carta na Á­ntegra de Nelsinho Piquet sobre a confissão da batida em Cingapura

O brasileiro Nelsinho Piquet confessou, em carta divulgada pelo site F1SA, que bateu o carro de propósito para que o seu ex-companheiro de Renault Fernando Alonso fosse beneficiado no GP de Cingapura de 2008.

A data da carta, 30 de julho de 2009, é posterior Á  última corrida do piloto na Renault, no dia 26 de julho. Porém, o brasileiro só foi oficialmente demitido no dia 3 de agosto.

À época do GP de Cingapura de 2008, Piquet via seu nome envolto em uma série de especulações a respeito de sua demissão, já que só havia pontuado em três provas até então: França (7º), Alemanha (2º) e Hungria (6º).

Nelsinho então teria sido instruÁ­do a bater na curva 17, pois lá não haveria guindastes próximos que pudessem retirar seu carro da pista sem a entrada do carro de segurança. Foi justamente lá que o piloto se acidentou.

Veja a Á­ntegra da carta.

“Eu, Nelson Á‚ngelo Piquet, nascido em 25 de julho de 1985, em Heidelberg, na Alemanha, digo o seguinte:

1. Exceto algo dito ao contrário, os fatos e declarações contidas nesta carta são baseadas em fatos e assuntos de meu conhecimento. Acredito que tais fatos e declarações contidas neste depoimento são verdadeiras e corretos. Quando quaisquer fatos ou declarações não estiverem dentro de meu próprio conhecimento, serão verdadeiros ao melhor de meu conhecimento e crença e, se este for o caso, indico a fonte deste conhecimento e crença.

2. Faço esta declaração voluntariamente para a FIA, para permitir que a FIA exerça suas funções reguladoras e de supervisão no que diz respeito ao Campeonato Mundial de F-1 da FIA.

3. Sei que há um acordo entre todos os participantes do Campeonato Mundial de F-1 da FIA e todos os titulares tem sua Superlicença para garantir a justiça e a legitimidade do campeonato, e sei as graves consequências que podem se seguir se eu dar Á  FIA qualquer declaração falsa ou enganosa.

4. Entendo que a minha declaração completa foi gravada em fita de áudio e que uma transcrição completa da minha gravação de áudio será disponibilizada para mim e para a FIA. O presente documento constitui um resumo dos principais pontos abordados durante minha declaração verbal.

5. Gostaria de levar os seguintes fatos ao conhecimento da FIA.

6. Durante o GP de Cingapura de F-1, realizado em 28 de setembro de 2008 e válido pelo Campeonato Mundial de F-1 da FIA de 2008, fui convidado pelo Sr. Flavio Briatore, que é tanto meu empresário quanto diretor da equipe ING Renault F-1 Team, e pelo Sr. Pat Symonds, diretor técnico da mesma equipe, a bater deliberadamente meu carro, a fim de influenciar positivamente o desempenho do ING Renault F-1 Team no evento em questão. Concordei com esta proposta e conduzi meu carro para acertar o muro, provocando um acidente na 13ª/14ª volta da corrida.

7. A proposta de provocar deliberadamente um acidente me foi feita pouco antes da corrida, quando fui chamado pelo Sr. Briatore e pelo Sr. Symonds no escritório do Sr. Briatore. O Sr. Symonds, na presença do Sr. Briatore, me perguntou se eu estaria disposto a sacrificar minha corrida pela equipe para “causar um safety car”. Todo piloto de F-1 sabe que o safety car entra na pista quando há um acidente que a bloqueia ou deixa detritos, ou quando há um carro danificado onde é difÁ­cil resgatar um carro danificado, como foi o caso aqui.

8. No momento daquela conversa, eu estava em um estado mental e emocional muito frágil. Este estado de espÁ­rito foi provocado pelo estresse intenso devido ao fato de que o Sr. Briatore se recusou a informar-me da existência ou não da renovação de meu contrato de piloto para o ano seguinte (2009), como habitualmente ocorre no meio da temporada (entre julho e agosto). Em vez disso, o Sr. Briatore repetidamente pediu-me para assinar uma “opção”, o que significava que eu não estava autorizado a negociar com outras equipes no mesmo perÁ­odo. Ele repetidamente me colocou sob pressão para prolongar a opção que eu tinha assinado, e iria me chamar regularmente em seu escritório para discutir esta renovação, mesmo em dia de corrida, um momento que deveria ser apenas para concentração e relaxamento antes da prova. O esforço foi acentuado pelo fato de que, durante o GP de Cingapura, eu havia me classificado em 16º lugar, então eu estava muito inseguro sobre o meu futuro na equipe Renault. Quando me pediram para bater o carro e provocar a entrada do safety car para ajudar a equipe, eu aceitei porque esperava que pudesse melhorar minha posição dentro da equipe no momento crÁ­tico da temporada. Em nenhum momento fui informado por qualquer pessoa que, ao concordar em provocar um incidente, eu teria garantido a renovação de meu contrato ou qualquer outra vantagem. No entanto, no contexto, pensei que seria útil para alcançar este objetivo. Por isso, concordei em provocar o incidente.

9. Após a reunião com o Sr. Briatore e o Sr. Symonds, o Sr. Symonds me chamaram para um canto tranquilo e, usando um mapa, me mostraram o ponto exato da pista em que eu deveria bater. Esta curva foi escolhida porque aquele local especÁ­fico da pista não possui guindastes que permitiriam que um carro danificado pudesse ser rapidamente removido da pista, nem possui entradas laterais, o que permitiria que um fiscal de pista pudesse empurrar rapidamente o carro para fora dela. Assim, considerou-se que um acidente nesta posição especÁ­fica seria quase certo de provocar uma obstrução da pista e que, portanto, seria necessária a implantação do safety car a fim de permitir que a pista fosse limpa e para assegurar a continuidade da corrida.

10. O Sr. Symonds também me disse em que volta, exatamente, eu deveria provocar o incidente, de modo a poder disponibilizar ao meu companheiro de equipe, o Sr. Fernando Alonso, uma boa estratégia, já que ele faria seu reabastecimento pouco antes da entrada do safety car, na 12ª volta. A chave para esta estratégia reside no fato de que o conhecimento de que o carro de segurança entraria na pista entre as voltas 13 e 14 permitiu que a equipe fizesse no carro do Sr. Alonso uma estratégia agressiva de combustÁ­vel, suficiente para chegar a 12 voltas, mas não muito mais. Isso permitiria que o Sr. Alonso ultrapassasse o máximo de carros possÁ­vel, sabendo que os carros teriam dificuldade em recuperar o tempo perdido depois do pit stop devido Á  implantação posterior do safety car. Esta estratégia foi bem sucedida e o Sr. Alonso venceu o GP de Cingapura de F-1 de 2008.

11. Durante essas discussões não houve qualquer menção de quaisquer preocupações no que diz respeito Á  segurança desta estratégia, quer para mim, para os espectadores ou para os outros pilotos. O único comentário feito neste contexto foi realizado pelo Sr. Pat Symonds, que me alertou para “ter cuidado”, dizendo que eu não deveria me ferir.

12. Eu intencionalmente causei o acidente, deixando o carro sair lateralmente pouco antes da curva. A fim de me certificar que eu provocaria o acidente durante a volta certa, perguntei para a minha equipe por diversas vezes, através do rádio, para confirmar o número da volta, algo que eu não faria normalmente. Não fiquei ferido durante o acidente, nem ninguém.

13. Após as discussões com o Sr. Briatore e o Sr. Symonds, citados acima, a “estratégia do acidente” nunca foi discutida novamente com qualquer um deles. O Sr. Briatore discretamente disse “obrigado” após o final da corrida, sem falar mais nada. Não sei se alguém tinha conhecimento desta estratégia no inÁ­cio da corrida.

14. Após a corrida, informei ao Sr. Felipe Vargas, um amigo e conselheiro da famÁ­lia, o fato de que o acidente tinha sido deliberado. O Sr. Vargas ainda informou meu pai, o Sr. Nelson Piquet, algum tempo depois.

15. Depois da corrida diversos jornalistas fizeram perguntas sobre o acidente ou me perguntaram se eu o havia causado de propósito pois perceberam que eu era “suspeito”.

16. Na minha própria equipe, o engenheiro do meu carro questionou a natureza do incidente, porque ele achou incomum, e eu respondi que eu tinha perdido o controle do carro. Eu acredito que um engenheiro inteligente notaria que os dados de telemetria do carro indicam que o acidente foi causado de propósito, já que continuei acelerando, enquanto que o “normal” seria frear o mais rapidamente possÁ­vel.

Declaração de Verdade

Eu acredito e juro que os fatos citados nesta declaração são verdadeiros.

A afirmação foi feita na sede da FIA em Paris, em 30 de julho de 2009, na presença do Sr. Alan Donnelly (Presidente dos comissários da FIA), Martin Smith e Sr. Jacob.

Marsh (Investigadores da empresa Quest, mantidos pela FIA para ajudar na investigação). As notas foram tomadas pela Sra. Dondnique Costesec (Sidley Austin LLP).

Assinado

Nelson Piquet Jr.”