FIA GT: Torcida brasileira faz a festa na vitória de Bernoldi e Xandinho

Dupla da Vitaphone Racing contou com aposta no acerto do carro e em estratégia agressiva para fechar a corrida no primeiro lugar em Interlagos

O público de 21.200 pessoas que encheu as arquibancadas principais do Autódromo de Interlagos, em São Paulo, vibrou com a vitória da dupla brasileira formada por Enrique Bernoldi (Sangari) e Xandinho Negrão na tarde deste domingo (28). A dupla, que corre com o Maserati MC12 da Vitaphone Racing, teve de contar com paciência e uma boa estratégia para vencer pela primeira vez neste ano pelo Campeonato Mundial de GT1, que realizou na Capital Paulista sua nona e penúltima etapa da temporada.

“Sofri o ano todo porque não tÁ­nhamos uma dupla completa de pilotos, e sem isso é impossÁ­vel vencer na GT1. Desta vez tÁ­nhamos a chance e estávamos em casa, correndo diante da nossa torcida, então tÁ­nhamos que aproveitar. Estou muito, muito feliz por esta vitória, em um campeonato mundial, e dentro de Interlagos”, afirmou um exultante – e aliviado – Enrique Bernoldi, que até então dividia a condução do MC12 com o português Miguel Ramos.

“Eu via a torcida nas arquibancadas e o Enrique no muro da reta me incentivando. Estou sem palavras. Esta foi a vitória mais importante e mais saborosa da minha carreira”, disse Xandinho Negrão, responsável por guiar o Maserati na metade final da prova.

A corrida – Largando da quarta posição – resultado da corrida de sábado, em que a dupla havia largado da pole position e sofreu com um pit stop mal executado e que acabou rendendo uma punição com drive through -, Bernoldi sabia que teria de ser agressivo para lutar pela vitória. Tanto que na segunda volta ele ultrapassou o Aston Martin de Clivio Piccione e conquistou a terceira colocação, na freada para o S de baixa, após o Laranjinha. O monegasco, no entanto, devolveu a manobra quatro voltas depois, no S do Senna.

“Nosso carro é bem mais pesado que os outros e tem o menor diâmetro do restritor de ar do motor. Então, em pontos com o S do Senna e a Curva do Lago, que são freadas de final de reta, a gente é forçado a chegar se defendendo, e não atacando, porque nossa velocidade de reta não é tão alta como a de nossos adversários”, explicou Enrique.

A partir desta constatação, Bernoldi teve de mudar a estratégia e passou a manter um ritmo que o permitisse acompanhar o ‘trem’ formado pelos cinco primeiros colocados, liderado pelo Aston Martin de Tomas Enge. Na volta 16, que marcou a abertura da janela obrigatória de pit stops, o Maserati número 2 dirigiu-se aos boxes para que Xandinho Negrão assumisse o volante.

“Normalmente eu largava com o pneu novo, mas aqui resolvemos mudar justamente por termos uma dupla mais equilibrada. Então eu larguei com os pneus já usados, tratei de me manter no pelotão sem deixar os lÁ­deres se distanciarem e quando parasse, o Xandinho sairia de pneus novos”, explicou. “O pit stop foi excelente e ele usou as voltas boas para chegar nos carros da frente. Ganhamos uma posição nos boxes e sabÁ­amos que o Aston Martin tinha pneus mais gastos que os nossos”, lembrou.

Na 17ª volta, Xandinho ultrapassou o Aston Martin de Jonathan Hirschi para tomar a segunda posição na Curva do Lago. A partir daÁ­, iniciou-se a perseguição ao lÁ­der Darren Turner, também de Aston Martin. O Maserati MC12 encostava no ponteiro quando ambos faziam o “miolo” do circuito (do Laranjinha Á  Junção), mas nas retas o carro inglês abria boa margem.

“De ontem para hoje nós fizemos um acerto completamente diferente no carro. Eu gosto de um setup mais duro, mas assim os pneus sofriam mais. Resolvemos deixa-lo mais ‘mole’ justamente para ter um melhor rendimento no miolo”, apontou Bernoldi. “Nem eu e nem o Xandinho tÁ­nhamos guiado o carro desta maneira, e foi uma aposta que se mostrou acertada”, disse.

A pressão de Negrão continuou por mais 11 voltas, até que na 29ª passagem o parceiro de Enrique colocou seu carro por dentro na freada do Bico de Pato; os dois carros se tocaram lateralmente, mas Xandinho completou a ultrapassagem para se tornar o lÁ­der da prova a nove voltas do final.

Quando o Maserati passou pela reta principal na liderança, a torcida vibrou nas arquibancadas de Interlagos. Dali em diante, restou ao piloto administrar a vantagem para conquistar sua primeira vitória – e de Bernoldi – no novo formato da GT1. Foi a segunda de ambos na categoria (Negrão em Nogaro, França, com o MC12 em 2008, e Bernoldi em 2009 com o Corvette em Paul Ricard, também na França).

“Esta vitória foi mais difÁ­cil que a de 2009, com certeza”, constatou Enrique, que encontrou uma coincidência entre seus dois triunfos: “Ano passado fizemos a pole, fomos punidos, largamos em sexto e mesmo assim vencemos a corrida. Ontem largamos na pole, fomos punidos e hoje largamos em quarto. Durante a manhã eu até pensei nisso, que a história poderia se repetir”, lembrou.

“O Xandinho e a equipe fizeram um trabalho excelente. Para se vencer na GT1, é necessário ter dois pilotos número 1 dividindo o carro, e não era o que vinha acontecendo”, apontou o curitibano. Xandinho ressaltou o trabalho de seu parceiro. “O Enrique foi muito inteligente e agressivo o fim de semana todo. Ele acertou o carro, pensou nas mudanças e fez a pole position. Foi sensacional vencer aqui em Interlagos”, concluiu.

“Tirei um peso enorme das costas. O fim de semana todo eu alimentava o pensamento de que eu tinha que vencer aqui em Interlagos a qualquer custo. Foi necessário muito trabalho de equipe, muita agressividade na pista. Trabalhamos como um time verdadeiro. E quando isso acontece, o resultado só pode ser esse”, encerrou.

A décima e última etapa do Mundial de GT1 acontece em San Luis, na Argentina, entre os dias 3 e 5 de dezembro.