GP3: Uma estreia realmente de arrepiar

Piloto Lucas Foresti, destaque do Brasil na abertura da GP3 Series, conta em detalhes o seu final de semana que terminou com um comemorado pódio.

O autódromo da Catalunya, em Barcelona, Espanha, recebeu no último final de semana, entre os dias sete e nove de maio, a rodada de abertura do Campeonato da GP3 Series. 30 pilotos de várias nacionalidades estiveram na pista que foi utilizada também para as atividades da GP2 e Fórmula-1.
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Um dos pilotos menos experientes do grid foi o brasileiro Lucas Foresti. Natural de BrasÁ­lia o jovem de 17 anos começou no automobilismo no ano passado, quando foi o terceiro colocado no Sul-Americano de F-3. Nesta temporada Foresti faz apenas seu segundo ano Á  bordo dos monopostos e tem se dedicado bastante em busca de experiência. Nos meses de janeiro e fevereiro disputou na Nova Zelândia o Toyota Racing Series e, durante esta temporada, defenderá as cores da equipe Carlin no Campeonato Britânico de F-3.
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Exatamente a convite da equipe Carlin que Lucas chegou Á  Barcelona para a disputa desta rodada inaugural da GP3 Series. Sem se intimidar perante a grande experiência de outros adversários do grid como Esteban Gutierrez (Mex), Oliver Oakes (GBR), Alexander Rossi (USA), Felipe Guimarães (BRA), Jean-Eric Vergne (FRA), Ranger Van Der Zande (HOL), dentre vários outros o brasileiro chegou confiante baseado em seus resultados dos testes coletivos da pré-temporada.
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Treino Livre marcado pelo “modo de segurança”
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Na sexta-feira, dia sete, os pilotos da GP3 Series participaram de um evento de lançamento da classe acompanhado pela imprensa do mundo inteiro. De lá, seguiram direto para a pista onde, em uma única sessão de 30 minutos livres, puderam fazer os acertos e ajustes para a tomada de tempos e as duas corridas que estavam por vir.
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O clima de Barcelona, caprichosamente, parecia brincar com pilotos e equipes. Apenas na parte da manhã quatro estações do ano puderam ser observadas e, com isso, criou-se uma grande dificuldade para que os times escolhessem o acerto ideal. Como a temperatura baixa esteve presente em toda o dia a Carlin optou por deixar parte do sistema de arrefecimento do carro tampada para que o motor não trabalhasse fora de sua faixa ideal de temperatura.
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Ocorre porém que, após as voltas normais de aquecimento, o carro de Foresti não rendia o ideal e seu carro entrou em um sistema chamado “safe-mode”. Isso aconteceu em virtude da temperatura do motor ter subido muito e, para resguardar o equipamento, a eletrÁ´nica do carro limita a potência em 50% até que esta situação volte aos padrões normais.
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A equipe orientou que Foresti ficasse na pista, mesmo de forma lenta, para tentar sanar o problema, mas, não adiantou. Assim, o brasileiro levou o carro de volta aos boxes e, com gelo seco e grandes ventiladores o time conseguiu finalmente esfriar o motor e recolocar o brasileiro na pista. Porém, nesta altura, restavam apenas cinco minutos do treino e com isso, Lucas registrou o tempo de 1m40s440 e ficou apenas com a 25ª marca da sessão e, acima de tudo, bastante decepcionado.
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Tomada de Tempos – As coisas começaram a melhorar
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O sábado no Circuito da Catalunya começou chuvoso e com bastante frio. A tomada de tempos foi realizada nas primeiras horas da manhã com a pista molhada, sem chuva, e melhorando a cada volta.
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Lucas logo entrou na pista e, nos primeiros dez minutos da sessão conseguiu se manter entre os dez mais rápidos. Com 12 minutos de treino a equipe chamou o brasileiro para entrar nos boxes para conferência geral do carro e checagem da calibragem dos pneus que, segundo Lucas, não estava ideal.
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Porém, ao entrar na área dos “pits”, o carro de Lucas foi sorteado pela organização para pesagem e conferência das medidas. Este procedimento levou quase oito minutos e, com isso, o piloto chegou aos boxes faltando pouco mais de dez minutos para o final da classificação. A equipe trabalhou rápido e recolocou Lucas nas pista, porém, neste instante com a 27ª marca. O tempo restante foi suficiente apenas para duas voltas onde o brasileiro constatou que o carro realmente estava rápido. Com o tempo de 1m54s477 ele conseguiu registrar o décimo tempo, mas, na última volta foi superado por alguns adversários que ainda estavam no traçado finalizando a tomada na 14ª posição.
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Primeira Corrida – Prova de arrojo e determinação
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Consciente do equipamento que tinha em mãos Lucas estava muito concentrado para a corrida e, com seu “coach” Roberto Pupo Moreno, comentou que seu objetivo para esta prova seria terminar entre os oito primeiros para, assim, conseguir um bom lugar de largada. (Assim como na GP2 o grid de largada da segunda corrida do final de semana tem invertidas as posições de chegada da primeira bateria entre os oito primeiros e mantidas as posições Á  partir daÁ­).
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Após uma boa largada Lucas se posicionou bem no traçado de forma a iniciar sua corrida de recuperação. Arrojado e muito veloz o piloto da equipe Carlin logo partiu para cima de seus adversários e, com apenas três voltas, já aparecia na décima posição.
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Com o passar das voltas Foresti continuou mantendo um ritmo muito forte e, não demorou muito para ganhar mais posições. Na metade da corrida ela já era o sétimo, porém, sofrendo forte pressão do americano Alexander Rossi, da equipe ART. A briga entre os dois roubou as atenções da corrida. Com um equipamento visivelmente mais rápido Rossi buscava a ultrapassagem de todas as formas e Lucas, dentro do permitido pelas normas da competiçÁƒo, se defendia dos ataques. A duas voltas para o final Rossi chegou Á  ultrapassar o brasileiro, mas, Lucas conseguiu tracionar melhor na saÁ­da da curva e deu um “xis” no concorrente deixando de pé as quase 100 mil pessoas presentes no autódromo. Ao final da prova Pal Varhaug venceu com Lucas recebendo a bandeirada na sétima posição.
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Segunda Corrida – Fechando a rodada com “chave de prata”
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Após ter conquistado o objetivo de finalizar a primeira prova entre os oito primeiros Lucas alinhou seu carro para a prova de domingo na segunda posição, atrás apenas de Rossi, o pole-position.
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Satisfeito por largar na primeira fila o inexperiente brasileiro estava um pouco ansioso por estar Á  frente de pilotos que tem em seus currÁ­culos tÁ­tulos e participações em inúmeras competições importantes como F-Renault, World Series, A1-GP, F-2, GP2, dentre várias outras.
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A corrida foi autorizada as quatro e meia da manhã de domingo, horário de BrasÁ­lia, e os dois primeiros colocados deixaram os carros derraparem um pouco, caindo para a terceira (Alex) e quarta (Lucas) posições.
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Sabendo que precisava de toda forma se manter na frente Lucas posicionou seu carro o mais “por dentro” possÁ­vel e desceu a reta acelerando. O francês Jean-Eric Vergne emparelhou seu carro com o de Foresti e o espremeu contra a área de saÁ­da dos boxes. Lucas, determinado, não tirou o pé do acelerador e ambos seguiram “tocando rodas” até a tomada da curva um. Vergne ainda tentou fazer a curva por fora, mas, sem velocidade na retomada acabou ficando em terceiro enquanto que Lucas, recuperou a segunda posição.
Com a asa dianteira esquerda quebrada Foresti seguiu na segunda posição sofrendo grande pressão de Vergne e, algumas voltas depois, de vários outros pilotos que se formaram em pelotão atrás dele.
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Consciente de que estava diante do maior palco do automobilismo mundial Foresti não aliviou e se manteve como um guerreiro Á  frente dos pneus. Com a pequena perda de pressão aerodinâmica que seu carro teve em virtude da quebra da asa, ele não conseguiu acompanhar o ritmo de Rossi que, com isso, abriu na liderança.
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Lucas, por sua vez, passou os trinta minutos da bateria se defendendo dos ataques do francês e, na segunda metade da prova, do mexicano Esteban Gutierrez. Ao final, com pouco mais de um segundo de vantagem, Lucas comemorou muito a segunda posição na corrida. Rossi venceu.
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“Estou vivendo um misto de alegria e dúvida neste momento de minha vida. Fiquei realmente muito feliz com o resultado da corrida e de todo o nosso trabalho no decorrer das atividades. Mais do que isso, a possibilidade real que tive de mostrar meu talento no fim de semana que aconteceu o recorde de público da F-1 com 230 mil pessoas nos três dias do evento. Por outro lado, meu contrato com a equipe Carlin é efetivamente para o Britânico de F-3. Não tem como fazer os dois campeonatos inteiros uma vez que três datas são coincidentes, o que inviabilizaria minha participação. Estou estudando realmente todas as possibilidades da temporada e, nos próximos dias, terei algumas reuniões onde definirei os rumos de minha temporada”, finalizou o brasiliense que ontem, dia 12, completou 18 anos.