IndyCar: Primeiro brasileiro dono de equipe na Indy, Gil de Ferran é exemplo dentro e fora das pista

A carreira do ex-piloto é um marco para o esporte brasileiro. Bicampeão da extinta Champ Car, vencedor das 500 Milhas de Indianápolis e ex-dirigente da Honda na F1 (atual Mercedes GP), e teve equipe vencedora na American Le Mans Series em 2009.

No último dia 16 de fevereiro foi anunciado mais um brasileiro na Fórmula Indy em 2010, mas desta vez não foi um piloto. Gil de Ferran se associou Á  Luczo Dragon Racing e virou o primeiro dono de equipe do PaÁ­s da história da categoria. Com um currÁ­culo invejável, o ex-piloto foi um dos brasileiros que mais sucessos acumulou na segunda metade dos anos 90 e nos primeiros anos da última década. Sua carreira dentro e fora das pistas o tornou uma espécie de marco para o esporte a motor brasileiro.

Gil começou sua carreira no Campeonato Brasileiro de Fórmula Ford em 1985, sendo campeão dois anos depois. Na época, De Ferran foi obrigado a interromper os estudos na faculdade de engenharia para, em seguida, seguir para a Europa. Gil teve passagens pela Fórmula Ford Inglesa; Fórmula Vauxhall; Fórmula Opel Euroseries; Campeonato Inglês de Fórmula 3 (campeão em 92); e Fórmula 3000 Internacional. Em todas as categorias pelas quais competiu, sempre teve grande desempenho e mostrou conhecimento de engenharia e acerto dos carros.

“Sempre gostei muito do assunto. Tenho amor pelos automóveis desde criança”, lembrou Gil. “O meu pai era engenheiro e trabalhou na Ford do Brasil por muito tempo. Começou por baixo e chegou a ser vice-presidente. Com certeza estava no sangue da famÁ­lia”, explicou.

Em 1992 e 1993, o brasileiro chegou a realizar testes pelas equipes Williams e Arrows de Fórmula 1. Mas ao fim de 1994, mesmo Á s portas da categoria, decidiu correr nos Estados Unidos, pela equipe do lendário piloto Jim Hall, na extinta Champ Car.

Logo na primeira prova, em Miami, conquistou a pole position. O piloto ficou no time liderado por Jim Hall até 1996, sempre com resultados notáveis para um novato. Para os três anos seguintes Gil assinou com a equipe Walker e mostrou novamente bom desempenho. Em 1997 tornou-se vice-campeão da categoria, mesmo sem vencer naquela temporada.

Em 2000, Gil foi para a Penske Racing, uma das mais tradicionais do automobilismo americano. Com duas vitórias e sete pódios, o brasileiro conquistou seu primeiro tÁ­tulo. Além disso, o piloto bateu o recorde mundial de velocidade em pista fechada, no circuito da Califórnia, atingindo 211,428 milhas/h (340,18 km/h). Na temporada seguinte, veio o bicampeonato, tornando Gil o maior campeão do Brasil na Champ Car.

A partir de 2002, a equipe de Roger Penske passou a competir na Fórmula Indy. Em duas temporadas, Gil conquistou cinco vitórias. O brasileiro anunciou a aposentadoria como piloto no inÁ­cio da temporada 2003, mas com grande competitividade. No ano de sua despedida, De Ferran venceu a tradicional prova das 500 Milhas de Indianápolis e foi vice-campeão, vencendo três provas, inclusive, a sua última corrida, no Texas.

“Parei exatamente por isso. Eu não queria ver o outro lado da montanha”, disse Gil, a respeito da carreira. “Queria também fazer outras coisas além de correr de carro e é exatamente isso que eu venho fazendo desde então”.

O próximo passo foi aceitar o desafio de ser o diretor esportivo da equipe BAR (atual Brawn GP) de F-1, comandando os pilotos Jenson Button e Rubens Barrichello, em 2005. “Foi uma experiência fantástica. Como diretor esportivo eu tinha responsabilidade sobre tudo que acontecia na pista e todas as pessoas que trabalhavam em torno disso. Eram cerca de 120 profissionais”, contou Gil.

“Trabalhei com a Reynard na Fórmula Ford, Fórmula 3 e Fórmula 3000. Era também o principal piloto de testes da Honda na Champ Car, o que me deu um ótimo relacionamento com eles e acabou por me levar Á  Fórmula 1”, revelou.

De Ferran saiu da equipe em 2007 para, no ano seguinte, aceitar o desafio de desenvolver uma equipe de protótipos para a Acura – divisão de luxo da Honda nos EUA – na American Le Mans Series. Primeiro na divisão LMP2 e depois na LMP1. Surgia assim a De Ferran Motorsports, que acabou tendo Gil como piloto, apenas para o desenvolvimento do carro. “Sempre pensei em ser dono de equipe. Existem oportunidades e oportunidades e, quando essa apareceu, abracei”, disse o vencedor de cinco provas pela categoria.

Desde o meio do ano passado, de Ferran tentava transportar seu time também para a Fórmula Indy, mas escolheu se associar a Jay Penske e Steve Luczo. “Era uma conversa que a gente estava tendo há tempos. Desde três anos atrás, quando a equipe começou. Com certeza seremos mais fortes juntos do que separados. São três profissionais com atitudes complementares. Jay e Steve são homens de negócios e têm um sucesso fora do comum”.

Quanto Á  temporada, o brasileiro está otimista, mas mantendo os pés no chão. “Todo mundo entra nas corridas tentando ganhar, mas temos que ser realistas. A categoria é liderada por duas equipes há praticamente dez anos. É preciso trabalhar muito e nos desenvolver bastante. Vamos focar em alta tecnologia para progredir”, analisou.

Quando perguntado qual o melhor chefe de equipe pela qual trabalhou, a resposta vem prontamente. “Sem a menor dúvida foi o Roger Penske. É uma pessoa fantástica, um grande ser humano. Ele é muito inteligente, de princÁ­pios fortes e tem um compromisso com o sucesso sem igual. É uma combinação de fatores que fazem dele o que ele é. Não é a toa que há 40 anos ele é dono de uma das principais equipes da Indy. É a Ferrari dos EUA”, finaliza.

A São Paulo Indy 300 terá transmissão ao vivo pelos canais Band e Bandsports, além das rádios Bandeirantes e BandNews FM.