Outras: Em quatro dias, evento emociona pilotos, fãs e colecionadores

Primeira edição reuniu média de 3.000 visitantes por dia para ver o que de melhor o Brasil produziu nas pistas.


Nos quatro dias de duração do Clássicos de Competição – evento que comemorou o aniversário da cidade de São Paulo, no dia 25, e se estendeu até este domingo ­- o que não faltou foram vozes embargadas, olhos vidrados (fixos em algum Á­dolo do passado) e muita emoção. Em sua estréia, o encontro foi capaz de reunir os principais nomes históricos do esporte a motor no paÁ­s, além de uma variada gama de profissionais e personalidades que fizeram ou fazem parte do desenvolvimento do automobilismo no Brasil. O público que foi ao autódromo de Interlagos viu de perto o modelo francês Le Zebre, trazido em 1909 pela famÁ­lia de Santos Dumont. Viu também Wilson Fittipaldi chorar de emoção durante a palestra que ele, entre outros Á­dolos, proferiu no cinema montado no circuito. Depois, Wilsinho rasgou as retas de Interlagos no modelo Fittipaldi FD01, como nos velhos tempos de treinos na pista:

“Vim aqui em Interlagos, em 1975, para ver este mesmo carro treinar. Foi meu pai quem me trouxe. Hoje, eu sou o pai, e também trago meu filho”, comentou o chefe de equipe Eduardo Bassani, que, inspirado na saga da única equipe brasileira na F-1, tentou a carreira de piloto. O comentário sobre o FD01 também foi comum em relação a muitos outros Á­cones brasileiros das pistas, como o DKW Malzoni, o protótipo Fúria BMW, ou o Porsche 908/2, um bólido imbatÁ­vel nos anos 1970 sob o comando de Luis Pereira Bueno: “Eu mesmo revi carros que usei durante minha carreira”, disse Bueno, um dos brasileiros que competiu de F-1. “Este encontro foi muito importante, gostei demais”.

Incentivo Á  cultura – Segundo Sandra Sinicco, do Grupo CASA, empresa organizadora do Clássicos de Competição, a primeira edição do evento reuniu em média 3.000 visitantes por dia: “Costumam dizer que eventos que se baseiam no resgate da memória e da cultura no Brasil estão fadados ao fracasso, mas não foi isso o que aconteceu aqui em Interlagos”, diz a empresária. “O Clássicos, como outros eventos de cunho basicamente cultural, tem essa filosofia, e isso é algo do que não pretendemos abrir mão. Foi lindo ver a felicidade dos pilotos, contando suas histórias e o público reconhecendo o valor do que eles fizeram”.

Outro ponto alto foi a participação de muitos colecionadores motivados em fazer um único evento de qualidade: “Hoje existem carros fantásticos que foram restaurados e estão escondidos nas garagens de pessoas que investem sozinhas nesta preservação”, diz Eduardo Conde, sócio de Sandra Sinicco na iniciativa. “Eles estão isolados, sem apoio, mas a idéia do Clássicos de Competição é justamente criar um elo entre essas pessoas, que merecem o reconhecimento pelo que fizeram. Queremos criar meios de todos terem um retorno por seu investimento, e para isso criamos este evento”, completa Conde, ele próprio um colecionador apaixonado pelos carros de época.

Mas não são apenas colecionadores e pilotos os beneficiados pelo evento: “Vim do Rio de Janeiro especialmente para participar. O contato com o público foi sensacional, além, claro, da divulgação do meu trabalho”, explicou o escritor Paulo Scali, autor de vários livros sobre a história do automobilismo no Brasil. “Em termos de qualidade e variedade da coleção de carros exibida, sem dúvida o ‘Clássicos’ foi o melhor evento que já cobri na minha carreira”, disse o jornalista especializado Márcio Torrentes, que há seis anos possui um site sobre automobilismo esportivo.