Stock: Categoria já estuda pacote de mudanças no carro novo

Alterações visam aumentar a segurança, mas só a mudança no escapamento deve gerar mais 20 cv de potência. Veja a opinião dos pilotos:

Existe um ditado no mundo do automobilismo: “carro de corrida nunca está pronto”. E isso dá bem a medida do trabalho de atualização das mais variadas ordens e objetivos que é realizado constantemente pelas equipes de categorias profissionais como a Copa Nextel Stock Car, categoria que abre a temporada 2009 neste domingo em Interlagos, a partir das 11h. O novÁ­ssimo modelo JL-G09, que faz sua estréia no traçado paulistano, passou por uma avaliação coletiva nesta semana. Desde segunda-feira passada, 32 pilotos passaram a testar o projeto diretamente na pista. Ao longo deste trabalho, a organização da categoria identificou itens do projeto que deverão ser modificados assim que a categoria deixar Interlagos. Alguns estarão prontos já para a próxima etapa, no dia 12 de abril, em Curitiba. A princÁ­pio, o pacote de mudanças inclui três elementos do carro: o reposicionamento das saÁ­das do escapamento, o aumento da porca que prende as rodas e, por último, o bocal do pequeno tanque usado pelas equipes para despejar combustÁ­vel no carro durante os pit stops.

Escapamentos – De acordo com Gustavo Lehto, um dos engenheiros responsáveis pelo projeto ao lado do italiano Nicola Scimeca, a principal modificação diz respeito ao conjunto de escapamentos do carro, que tem despertado preocupação por gerar calor excessivo dentro do cockpit. “Vamos mudar o posicionamento dos canos de descarga, que passarão a sair pelos dois lados da carenagem”, conta. No projeto original, usado neste fim de semana em Interlagos, os canos saÁ­am do motor e cruzavam a frente do carro, horizontalmente, bem próximos ao painel do veÁ­culo, unindo-se em uma única saÁ­da no lado direito da carenagem, no final do circuito. Nesta configuração, os canos que saem dos coletores da esquerda do motor percorrem um caminho maior – e próximo da barreira que separa o habitáculo do cofre do motor. Isto ocasiona o calor no interior do habitáculo – que em algumas ocasiões chegou a passar dos 60 graus; além dos pedais, que chegaram quase 90, obrigando o piloto Felipe Maluhy, da Tracker Racing, a usar palmilhas de amianto (material que isola o calor) dentro de suas sapatilhas.

“Vamos voltar Á  configuração do ano passado, com os canos saindo pelos dois lados da carenagem. Esta alteração já será posta em prática na próxima etapa, em Curitiba”, afirmou Zequinha Giaffone, diretor da JL, empresa responsável pelo projeto e construção do novo Stock Car. “Além disso, o carro deverá ganhar cerca de 20 cavalos a mais de potência no motor só por causa da alteração”, reforçou Gustavo Lehto. Em Curitiba o motor V8 dos Stock saltará de 450 cv para 470 cv.

Bocal de combustÁ­vel – A peça usada para o reabastecimento dos carros da Stock Car é a mesma utilizada no ano passado. O tanque do carro, porém, mudou: teve sua capacidade diminuÁ­da em 20 litros (de 80 para 60) justamente para que ocorram os reabastecimentos durante as corridas. O recipiente também foi deslocado para dentro do bólido, e não está mais na parte traseira.

O ângulo de entrada do bocal no carro, no entanto, mudou. Até o ano passado, a entrada ficava na horizontal, na posição exata de 180 graus, o que não ocorre no JL-G09. Na sexta-feira, ocorreu um incêndio no reabastecimento do carro do paulista Allam Khodair. Não houve feridos, mas o fato gerou preocupação. Por isso, a empresa fabricante, junto com o fornecedor dos tanques de reabastecimento, está estudando medidas para melhorar o encaixe da peça no momento das paradas de box.
“Deveremos adotar a mesma solução que é usada no DTM (campeonato alemão de Stock Car), onde este pequeno tanque tem uma curvatura no bocal, justamente para facilitar o encaixe e aumentar a segurança, já que, com esta inclinação, o mecânico que faz o abastecimento fica com o seu tanque quase na vertical, facilitando o escoamento da gasolina para dentro do carro e evitando que, ao retirar a peça, a válvula trave e continue vazando combustÁ­vel”, explica o projetista.

Rodas – Uma das grandes mudanças para este ano foi a adoção das rodas OZ de cubo rápido (presas por porca única), substituindo as antigas, que levavam cinco parafusos. A medida visa dar maior agilidade e rapidez nas trocas de pneus – que serão obrigatórias em um dos pitstops a partir da próxima etapa, em Curitiba. Contudo, a JL estuda o aumento do diâmetro das porcas das rodas em meio milÁ­metro.

“Fabricamos as porcas nos ângulos e tamanhos que a OZ, fornecedora das rodas, nos pediu. O sistema que adotamos no encaixe da peça com a ponta do eixo já funciona com sucesso em outras categorias internacionais”, explica Gustavo Lehto. “O que estamos estudando é aumentar o diâmetro das porcas em meio milÁ­metro, para garantir assim que no momento do pistop ela não seja encaixada incorretamente. E o nosso objetivo é garantir uma parada rápida, segura e confiável”, reforçou o engenheiro.

Os pilotos opinam – As medidas agradaram aos pilotos. Felipe Maluhy, da Tracker Racing, explicou que as alterações fazem parte de um trabalho de desenvolvimento, o que é comum com um carro tão novo. “Todo mundo está muito no inÁ­cio dos trabalhos, então isso é normal. O reposicionamento dos escapamentos vai melhorar muito a condição do piloto dentro do carro, já que as temperaturas no habitáculo estão realmente muito altas”, disse.

Chico Serra, da Hot Wheels Racing, faz uma análise sob a ótica de quem já competiu muito no exterior, inclusive na Fórmula 1. “Quando a Stock Car trocou o modelo Omega pelo protótipo que usamos até o ano passado, em 2000, também tivemos alguns problemas. Tudo foi se resolvendo e se desenvolvendo com o trabalho em conjunto entre as equipes e o fabricante. Essa colaboração é extremamente saudável e mostra a preocupação que todos têm em melhorar a categoria e deixá-la mais segura não só para os pilotos, mas também para equipes, imprensa e público. O automobilismo é um esporte técnico, e nas grandes categorias essa colaboração técnica entre os participantes e a organização acaba sendo uma das garantias de sucesso da categoria”, afirmou o piloto da Hot Wheels.

“Olhando este pacote todo, acho que o que mais conta para o piloto é que a temperatura interna do cockpit será menos severa do que vem sendo. E isso, para quem está disputando uma corrida que tem 50 minutos de duração, é muito importante, pois diminui o nosso desgaste e reflete diretamente na segurança pessoal e dos colegas de pista. Este carro já nasceu muito bem no aspecto esportivo. Quando consertarmos estes detalhes, teremos um equipamento moderno e de primeira linha. Acho que, do ponto de vista de quem pilota, a entrada deste carro é uma grande notÁ­cia, vai tornar cada prova muito mais interessante”, observou Luciano Burti (Amanco/Poliron), da equipe Boettger Competições.