Entrevista: Christian Fittipaldi conversa exclusivamente com o SpeedRacing.com.br

O piloto brasileiro Christian Fittipaldi conversa com o SpeedRacing.com.br falando sobre a A1GP e a passagem pelas mais diversas categorias do automobilismo mundial.

SpeedRacing – Como surgiu o convite para participar das provas finais da A1GP?

Christian Fittipaldi –
Antes da categoria começar, eles já haviam conversado comigo. Mas quando aconteceram os primeiros testes, em Paul Ricard (Fra), eu estava correndo de Stock em Londrina e não pude participar. Depois, uma das provas no final do ano, iria coincidir com outra corrida da Stock, então ficou meio inviável guiar o carro no ano passado. Então, eles começaram a temporada com o Nelsinho e foram bem. No entanto, ele não poderia fazer as últimas provas, porque estaria dando prioridade Á  GP2. Foi assim que recebi o convite, principalmente porque duas das quatro provas finais aconteceriam na América do Norte, em lugares onde eu já havia corrido antes na CART. Fiquei muito feliz com a oportunidade e gostei bastante do carro.


SR – Qual a sua primeira impressão sobre o carro da categoria?

CF –
Quando fui para a primeira corrida, na Indonésia, fazia três anos que eu não guiava um fórmula e o carro da A1 não é um carro de Fórmula 1, mas também não é um F-3 ou F-Ford. Ele é relativamente rápido e você também está correndo contra uma molecada que está treinando o tempo todo. Então, mesmo tendo bastante experiência, não é fácil chegar lá e andar no mesmo ritmo dos moleques, principalmente porque eu praticamente nem treinei antes da classificação, já que no primeiro dia só choveu.


SR – Apesar de fazer tempo que você não pilotava um monoposto, qual a principal diferença entre o carro da A1GP e um bólido da ChampCar?

CF –
O carro de A1 anda um pouco menos e também tem menos aderência que um Champ Car. De uma maneira geral, ele está no meio termo entre a Champ Car e a Fórmula 3. Com certeza, o Champ Car é um carro que produz bem mais downforce. 


SR – O time brasileiro na A1GP entrou como um dos favoritos, vencendo as duas primeiras corridas inclusive, porém ao decorrer da temporada os resultados foram piorando. Qual seria o motivo para essa queda de rendimento?

CF –
Acho que o time do Brasil começou um passo Á  frente que as outras equipes. Porém, os outros – depois que entenderam o carro melhor – melhoraram bastante e talvez o Brasil não tenha melhorado tanto. Mesmo tendo dito isso, a equipe do Brasil sempre foi competitiva em termos de performance. O que com certeza faltou foram menos problemas, tanto para mim, quanto para o Nelsinho. 


SR – Para a próxima temporada (2006/2007) você já obteve informações de como o time está se estruturando? O que esperar do time brasileiro na próxima temporada?

CF –
Vamos esperar essa temporada terminar primeiro. Ainda estamos pensando na última etapa e faltam 6 ou 8 meses para o inÁ­cio do próximo campeonato. 


SR – Você seguirá sendo o piloto da equipe, isso pode atrapalhar seu rendimento na Stock ou no Grand-AM?

CF –
Como eu disse acima, ainda falta muito tempo para a próxima temporada. Mas com certeza vou dar prioridade as minhas corridas na Stock e Grand-Am.


SR – Ainda é cedo para falar, mas como está sendo sua primeira temporada completa no Grand-AM, até o momento qual o balanço que faz do campeonato?

CF –
Estou muito feliz com o rendimento da equipe e do nosso carro. Nas 24 Horas de Daytona, em janeiro, mostramos uma performance muito boa, chegando a liderar várias voltas e estando sempre entre os cinco primeiros. Infelizmente, tivemos um problema mecânico que nos tirou da corrida, mas tÁ­nhamos grandes chances de terminar em uma boa colocação ou até mesmo brigar pelo pódio. No México, na segunda etapa, também mostramos confiabilidade e terminamos em sexto. Acho que em breve estaremos conquistando nosso primeiro pódio.


SR – O SpeedRacing.com.br é o único site brasileiro que vem cobrindo, inclusive ao vivo, as provas de Grand-AM, com um bom interesse do público brasileiro. Como você vê o interesse dos brasileiros nessa categoria, hoje sendo representada por você, além de Oswaldo Negri Jr e Mário Haberfeld?

CF –
Fico muito contente em saber que vocês estão fazendo uma cobertura especial sobre a categoria. Infelizmente, as provas de Grand-Am não são muito divulgadas, o que é realmente uma pena, porque os carros são muito interessantes e as disputas acirradas. Quem puder vir aqui assistir uma corrida vai ficar impressionado. Eu participei da primeira prova da Grand-Am, três anos atrás, e senti na pele como a categoria cresceu e agora ela está mais difÁ­cil e competitiva.


SR – Em 2005 você estreou na Stock Car V8, obtendo inclusive bons resultados para o primeiro ano. Você esperava essa dificuldade em uma categoria brasileira?

CF –
O nÁ­vel de profissionalismo na Stock atualmente é muito alto, com pilotos de muito talento e bastante experiência. Então eu sabia que não seria nada fácil. Na Stock, todos estão sempre andando muito próximos e, qualquer erro, por menor que seja, pode te jogar de primeiro para 20º no grid. E isso faz muita diferença na corrida. Acho que mostramos uma boa performance nas classificações, fui pole na Argentina, larguei duas vezes em terceiro lugar, mas infelizmente não tivemos sorte com o nosso desempenho nas corridas. Com certeza, eu espero começar a temporada 2006 da mesma maneira que terminamos 2005. Por isso, tenho tratado a primeira corrida do ano como a 13ª etapa do campeonato.


SR – Na etapa da Argentina de 2005 da Stock Car, você teve um episódio não muito agradável com o Cacá Bueno. Como você lembra daquela prova?

CF –
Tivemos uma prova absolutamente normal, com disputas agressivas, mas foi apenas uma corrida difÁ­cil.


SR – Em 2006, você está participando da A1GP, fazendo o campeonato de Grand-AM e em breve teremos o inÁ­cio da temporada da Stock Car V8. O que você espera da super temporada participando de vários campeonatos quase que ao mesmo tempo?

CF –
No ano passado, já vivi um pouco disso, porque disputei várias provas da temporada da Grand-Am, junto com a Stock, e a A1 já está terminando. Já conheço bem os dois carros (Stock e Grand-AM) e não acaba sendo um grande problema para mim. Algumas voltinhas e já estou com o carro na “mão”. São dois carros bem diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, porque eles têm mais ou menos a mesma quantidade de cavalos. Quando você acelera um carro da Grand-Am, ele anda um pouco mais, mas não é muito mais, não é como sair de um Stock e sentar em um Fórmula Indy, por exemplo.


SR – E sua participação na Nascar, como pode descrevê-la? Ainda pretende voltar a correr pela categoria?

CF –
Não tenho nenhum arrependimento pela minha experiência na NASCAR, mas se pudesse eu faria completamente diferente. Eu nunca teria feito como eu fiz, apesar de serem pessoas ótimas, simpáticas, boas, mas infelizmente a equipe não tinha a performance necessária dentro das pistas. Todo mundo que eles colocaram no carro e foram uns 10 ou 15 pilotos nos últimos anos não fez diferença nenhuma no carro, andando sempre em 25º ou 35º. E não importava o que o piloto fazia. É óbvio que isso não deu uma entrada muito positiva para mim dentro da Nascar. Além de que, ela era muito competitiva. Da mesma forma que eu fiz Fórmula Ford, F-3, F-3000 para chegar na F-1, os pilotos que querem chegar na Nascar correm de Midget, ARCA, Busch, enfim, eles fazem uma séria de outras categorias para um dia chegar a guiar um carro de Cup. E eu não passei por nada disso, com certeza encontrei uma certa dificuldade. Não vou dizer dificuldade na condução do veÁ­culo, mas mais dificuldade de metodologia de trabalho. Eu estava acostumado a trabalhar de uma maneira, eu vinha de uma escola de Fórmula e o pessoal da Nascar tem uma metodologia de trabalho bem diferente. Foi o que eu mais senti como piloto, mas mesmo assim a performance não era pior que os pilotos que estavam andando regularmente ou que já tinham andado vários anos no carro da Petty. Só voltaria a correr na categoria se pudesse competir por uma equipe de ponta.


SR – E a preparação fÁ­sica, não fica muito comprometida, correndo tantas provas com vários carros diferentes?

CF –
Não. Sigo a minha preparação fÁ­sica normalmente, correndo a pé, fazendo musculação, para estar bem preparado para suportar a demanda de cada carro. No entanto, um carro de fórmula exige muito mais do que as categorias que eu disputo hoje em dia.


SR – Você voltaria para a F1, ou é uma página virada?

CF –
Página virada.


SR – Para finalizar, uma mensagem para os internautas do SpeedRacing.com.br, que estarão lhe acompanhando na A1GP, Grand-AM e Stock V8 através do site.

CF – Obrigado pela torcida e não deixem de acompanhar todas as corridas. Um forte abraço!