Papo de Box: Destroy-Car em BrasÁ­llia, por Eduardo Homem de Mello

Confesso que é muito mais cÁ´modo comentar corridas pela cabine da Band do que tentar domar este potente e nervoso Stock Light.


O primeiro contato com o carro não foi muito animador, haja visto que este carro não tem muitas horas de vÁ´o, pois não ficou pronto na primeira etapa em São Paulo e de lá prá cá os mais variados problemas enfrentados pela equipe acabaram por  deixar o chefe de equipe Celso Jordão sem nenhuma base de ajuste. Além disso, uma batida na segunda etapa praticamente destruiu o carro e isso, somado a enfermidade do Murillo, impediu que o carro participasse regularmente das etapas já disputadas.

Assim, aceitei o convite e cheguei a BrasÁ­lia disposto a ajudar a equipe a desenvolver e testar alguns ajustes, partindo do zero. Percebi logo de cara que não seria uma tarefa fácil, pois de imediato o carro se mostrou avesso a ajustes e com uma enorme tendência de sair de frente. O carro é tão dianteiro que até provocou um comentário do Jorginho Freitas, chefe de equipe do já campeão antecipado Marcos Gomes: “Não sei mais o que fazer para colocar o carro numa trajetória neutra, sem que ele role de frente”.

Bom, se ele disse isso, para a nossa equipe já era um sinal evidente que estávamos no caminho certo, pois reclamei do começo ao fim junto ao Jordão dessa tendência dianteira do carro. E quem dirige carro de corrida sabe que é impossÁ­vel guiar assim, você tem que tirar o pé do acelerador, deixar o carro voltar Á  trajetória ideal para só depois acelerar, imagine a perda de tempo em cada curva e some isso ao tempo total de uma volta. Utilizamos todos os treinos para testar molas, calibragens e principalmente tentar entender o comportamento do carro.

Na classificação uma imprevisÁ­vel chuva caiu logo após a minha entrada na pista para duas voltas de classificação (fui o segundo a entrar na pista) e consegui o terceiro tempo no grid, até que três pilotos abortaram suas primeiras voltas, o que os recolocaria no final do grid para mais uma tentativa. A estratégia deu certo e eles entraram na minha frente – larguei em sexto.

Independente da posição no grid o que mais importou para a equipe foi o excelente tempo obtido na minha primeira volta da classificação, ficando há apenas sete décimos de segundos do tempo de  Marcos Gomes (que se sagrou campeão antecipado), sem dúvida uma vitória da equipe, pois o Jordão acertou a mão e me entregou um carro muito bem equilibrado.

A corrida foi um capitulo a parte, fiquei espantado com a maneira com que essa garotada conduz um carro tão potente e confesso, isso  me deixou muito preocupado.

Imaginem que estes garotos já não tão garotos assim, proporcionaram para o público um espetáculo digno de um campeonato de demolição, do tipo “Destroy- Car” , obrigando por 4 vezes a entrada do Safety Car para conter os ânimos, juntar os cacos e recompor as barreiras de proteção, um horror sem dúvida.

Uma caracterÁ­stica marcante no Stock Light e de fácil percepção é a rapidez com que o carro perde a aderência dificultando ao máximo a possibilidade de andar rápido. O piloto que perceber isso com mais clareza e se ajustar Á  condição de momento do carro, freando antes, contornando mais lento dentro das possibilidades dos pneus, com certeza chegará ao final da corrida com enormes possibilidades de vitória.

Assim, ao final dos 40 minutos regulamentares de prova, sem nenhuma conseqüência fÁ­sica para os envolvidos nos acidentes, porém com um enorme prejuÁ­zo material, terminei na décima posição.

Considero minha participação e este 10o. lugar uma vitória pessoal, pois aos 52 anos, há dois anos parado, largando na sexta fila, sendo atropelado por um afobado Leonardo Burti quando ocupava a 4a. posição na sexta volta, voltando em último e escapando de 5 acidentes, sem dúvida foi uma vitória inesquecÁ­vel.