Rally dos Sertões: Evitando os DEPS para não forfetar

O mundo dos rallies possui uma linguagem própria, criada ao longo de décadas para facilitar a comunicação em um esporte extremamente especializado

A 18ª edição do Rally Internacional dos Sertões já passa da sua metade. Seis etapas já foram disputadas e a prova chega nesta terça-feira (17/08) a Balsas (MA), oitavo municÁ­pio do roteiro – já passou por Goiânia (GO), Caldas Novas (GO), UnaÁ­ (MG), Alto ParaÁ­so de Goiás (GO), Dianópolis (TO), Palmas (TO), São Félix do Jalapão (TO). Formada por 1.700 pessoas, a caravana do Sertões é uma verdadeira cidade itinerante, que apresenta até dialeto próprio.

Para quem não vive ou acompanha o mundo do fora-de-estrada há algum tempo, é difÁ­cil conversar diretamente com pilotos, navegadores e integrantes das equipes de apoio e entender tudo. Termos especÁ­ficos, como coelhos e “curecas” – que significam perigo para carros, caminhões, quadris e motos quando trafegam em alta velocidade – são frequentemente utilizados, mas nem sempre entendido pelos novatos do rali.

“Coelho” é um termo retirado das corridas de cães, nas quais um mecanismo faz um boneco com a aparência de um coelho dispare na frente para que seja perseguido pelos competidores de quatro patas. Esta é apenas um dos vários termos criados para facilitar a comunicação no mundo dos rallies, um esporte extremamente especializado e técnico.

A terminologia coleciona ainda outras analogias, como “costela” e “facão”. Há também vocábulos cuja origem se perdeu no tempo, como “cureca”. Outras terminologias derivam das abreviações encontradas nos livros de bordo (com indicações que ajudam os navegadores a indicar o caminho e a prevenir os pilotos de perigos, ou curecas, Á  frente). É o caso de DEPS, que você viu no tÁ­tulo desta matéria, vocábulo que corresponde a uma “depressão de poças secas” (formadas pela água das chuvas que secou e modificou o formato do piso). Veja abaixo alguns termos do jargão cotidiano e do livro de bordo que são utilizados no mundo dos rallies:

Palavras de uso corriqueiro:
• Coelho – designa o membro da equipe que sai com três dias de antecedência (no Sertões) para checar possÁ­veis imprevistos e mudanças no roteiro, como uma ponte caÁ­da, uma nova cerca ou buraco de grandes dimensões
• Concentração – Local nas cidades onde o rally “estaciona”, depois da especial daquele dia
• Costela – pequenas irregularidades no piso ou mini lombadas que, quando o carro passa em alta velocidade, dão a sensação de se estar trafegando por “costelas” gigantes
• Cureca – É a palavra para perigo. Possui graduação, indicada nos livros de bordo, que vai de 1 a 3 curecas. Antes, a graduação era indicada por caveiras (de 1 a 3), mas atualmente usam-se pontos de exclamação
• Deslocamento – trechos do rally entre uma especial e outra
• DEPS – Indica “depressão de poças secas”, resultado da ação da água da chuva em piso de terra que, quando seca, deixa deformidades no piso
• Especial – Trecho de alta velocidade, cronometrado, ou partes do roteiro onde a corrida é realmente disputada
• E3 – Simbologia usada internacionalmente nos rallies para indicar estreitamento de pista
• Forfetar – Após o prazo máximo de chegada para dado veÁ­culo em determinado dia, há um perÁ­odo no qual o competidor deve entregar seu cartão de controle de horário. Universalmente, este prazo é de 30 minutos. Se perder o prazo, o veÁ­culo “forfetou”, ou seja, será penalizado com a perda do resultado conquistado naquele dia e cairá muitas colocações
• Levantamento – Determinação do roteiro do rally, realizado ao longo de meses de trabalho por uma equipe especializada da organização
• Lombas – Lombadas grandes que podem causar saltos violentos e quebra de elementos da suspensão
• Quebradeira – Trecho formado por piso com muitas pedras e buracos, geralmente em descida
• Piçarra – tipo de solo formado pela mistura de fragmentos de rocha, areia e outros, mas que conserva, ainda vestÁ­gios da textura original da rocha. Também chamado de tapururuca
• Prime – Disputa tipo ponto a ponto (sem formação de circuito) em alta velocidade. Muitas vezes é apenas uma exibição promocional
• Sentinel – Sistema que sinaliza eletronicamente ao carro da frente que há um bólido mais rápido solicitando ultrapassagem. O dispositivo aciona uma luz no painel e um alarme sonoro. É usado geralmente em trechos poeirentos e de pouca visibilidade
• Spy – Equipamento que indica infrações, como excesso de velocidade em zonas de radar. Fornece dados sobre o percurso e indicações do comportamento do veÁ­culo naquele dia
• Super prime – Disputa em alta velocidade em circuito fechado (tipo um autódromo de terra), no qual os obstáculos são produzidos artificialmente (por trator, como morretes, depressões, curvas de raios variados)
• Zona de radar – Área de velocidade controlada através do Spy, geralmente em vilarejos e trechos perigosos
• Way point – coordenada geográfica para utilização no GPS. Indica pontos da rota a ser empregada pelo competidor
• Facão – Sulcos no solo formados pela passagem de diversos veÁ­culos, que acabam influenciando o rendimento dos competidores que vierem depois naquele trecho. São chamados facões tanto os sulcos quando a porção de terra, saliente, que se acumula entre eles

Termos utilizados no livro de bordo:
! – Cureca (perigo)
!! – Dupla cureca
!!! – Tripla cureca (risco elevado, baixar a velocidade ao mÁ­nimo)
D – Indica trecho de deslocamento, ou trechos do rally entre uma especial e outra
DEPS – Depressões na estrada de poça seca
EROS – Erosão na estrada
FZR – Fim de zona de radar
ITE – InÁ­cio do trecho especial (cronometrado)
IZR – InÁ­cio de zona de radar (velocidade controlada)
LAPE – Laje de pedra (piso de pedra onde o veÁ­culo irá trafegar)
LBD – Lombada dupla
MB – Mata burro
MBVCL – Mata burro com vão central longitudinal
PTVCL – Ponte de toras com vão central longitudinal
R-30 – Radar 30 km/h
V – Vila