Stock Car: Calor é maior inimigo dos pilotos em Interlagos

Competidores enfrentarão “sauna” em torno de 60 graus. Médico especializado avisa que condições aumentam em 30% chances de cometer erros.

O sol bateu forte em Interlagos durante os primeiros treinos coletivos da Copa Nextel Stock Car. Mas a temperatura para o fim de semana não é das mais rigorosas: a temperatura máxima para hoje (27), segundo previsão do site Tempo Agora, é de 27 graus com predominância de sol e parca variação de nuvens, além da umidade do ar em 75%. Para sábado e domingo, a temperatura cai um pouco, com máximas de 25 e 23 graus, respectivamente. Mas, dentro dos carros que a categoria estréia neste fim de semana a previsão é de muito suor e dificuldade com o calor intenso.

Ao lado do acerto do modelo JL-G09, que fará sua primeira corrida em Interlagos, neste domingo, a resistência fÁ­sica parece ser uma preocupação de boa parte dos inscritos, apesar de todos os pilotos serem adeptos da preparação rigorosa. Com o competidor paramentado com macacão, luvas, balaclava e capacete, a expectativa é de 50 minutos de boa competição, e também de provação.

Felipe Maluhy, da Tracker-Avallone Racing, explica o porquê: “No carro do ano passado, o escapamento saÁ­a de uma parte mais baixa do motor e passava pelos dois lados da carenagem. Agora, passa margeando o painel, em frente ao piloto, e fica direcionado somente para um lado. Virou um gerador de calor dentro do cockpit”.

“Não vai ser fácil para ninguém, pois as condições são as mesmas para todo o grid”, acrescenta Luciano Burti, da Boettger Competições. Para os pilotos, é uma condição que não representa motivos de preocupação para os treinos, mas sim para os 50 minutos de duração da prova. E Maluhy faz uma comparação: “É como você entrar em uma sauna seca a 50 graus vestindo macacão, sapatilhas, luvas, balaclava e capacete, e além disso, ficasse pedalando por 50 minutos em uma bicicleta ergométrica mantendo seu coração a mais ou menos 140 batimentos por minuto, um regime bastante alto”.

“Não há muito o quê fazer. Cabe Á  equipe isolar o habitáculo do calor o melhor possÁ­vel. Para os treinos não é tão complicado. O problema é mesmo na corrida”, reforça Burti. “Até agora não tive problemas, mas me cuido: estou sempre me hidratando e me alimentando bem, além de manter o preparo fÁ­sico em dia”, acrescenta o ex-piloto de Fórmula 1.

Chico Serra, da Hot Wheels Racing, é o único piloto na ‘casa dos 50’ na categoria principal. Com 52 anos, o tricampeão da Stock Car corre 50 minutos diariamente. “Ainda não senti todo esse calor que os pilotos estão reclamando, até porque até agora eu não andei muito com o carro. Mas acho que estou preparado, pois me cuido para não ter problemas com esse tipo de coisa”, diz.

Orientação médica – Boa alimentação, hidratação e preparo fÁ­sico são mesmo as chaves para “agüentar o tranco” dentro de um carro de Stock Car por toda uma corrida, segundo o médico oficial da categoria, Dino Altmann. “Costumamos orientar os pilotos a ingerir um litro de lÁ­quidos uma hora antes da corrida, mais um litro durante a prova e dois litros após o término”, afirmou. Durante a corrida, os pilotos não bebem somente água: “Prefiro os isotÁ´nicos, de mais rápida absorção”, observa Felipe Maluhy.

Entretanto, segundo o médico da Stock Car, mais importante é fazer uma preparação especial na semana da corrida. “Comer bastante carboidrato (presente nas massas, pão e arroz) para aumentar a reserva de energia. Além disso, durante a corrida muitos optam por ingerir Dextrose, que é um açúcar de rápida absorção e que aumenta, assim, a reserva de energia do corpo”, explica.

De acordo com o Dr. Altmann, que é também o médico oficial do GP do Brasil de Fórmula 1, a perda de lÁ­quidos de um piloto durante uma corrida da Stock pode chegar a até três litros. “Depende muito do tamanho do piloto, do preparo e da idade dele. Além da perda de lÁ­quidos e do cansaço, há um outro problema ocasionado pela temperatura. Segundo alguns estudos feitos com pilotos de rali, quando o interior do carro está a mais de 40 graus, o corpo do piloto pode chegar a 38 graus após 20 minutos de atividade. É a temperatura de uma pessoa que está com febre”, aponta.

“E isso deixa 30% maior o potencial de alguém cometer um erro – seja de interpretação, de medida de espaço, de pilotagem… Por isso é extremamente importante uma alimentação rica em carboidratos, muito lÁ­quido e uma bom preparo fÁ­sico, já que os batimentos cardÁ­acos de um piloto podem chegar – dependendo da idade – a mais de 180 por minuto”, explica.